Quatro pontosloterias govque o continente americano era pioneiro antes da chegadaloterias govCristóvão Colombo:loterias gov

Mas esta noção mudou muito nos últimos tempos. Agora, os historiadores preferem se concentrar na convergência dos dois mundos e não na comparação entre eles.

A América e a Europa "lideravamloterias govprópria evolução histórica que,loterias govmuitos casos, foi interrompida abruptamente pela chegada dos europeus (à América)", segundo o historiador Esteban Mira Caballos, membro da Academia Dominicanaloterias govHistória.

Mesmo evitando comparações, os especialistas reconhecem que, do pontoloterias govvista atual, muitas das sociedades pré-colombianas podem ser consideradas inovadoras.

1. Mais igualdadeloterias govgênero

Enquanto grande parte do mundo continua lutando até hoje contra séculosloterias govdesigualdadeloterias govgênero, Prieto explica que "os Andes, o território que hoje compreende o Peru, Bolívia, Chile e Equador, abrigava sociedades nas quais as mulheres tinham direitos iguais aos dos homens".

Segundo ele, "existem casos históricos reais sobre a importância e o papel das mulheres com muito poder eloterias govinfluência na política, sociedade, religião e economia".

Prieto conta que, ao chegar a Piura, no litoral norte do Peru, o conquistador espanhol Francisco Pizarro (1478-1541) encontrou mulheres conhecidas como capelãs. Elas eram chefes que dominavam e controlavam aspectos políticos e religiosos das suas sociedades.

A arqueologia revelou casos antigos como o da Senhoraloterias govCao – uma mulher que governou entre os anos 300 e 400 d.C. e foi enterrada com símbolosloterias govrainha, chefe e sacerdotisaloterias govum túmulo repletoloterias govouro, prata e todo tipoloterias govornamentação.

As mulheres astecas do México antigo também contavam com direitos "mais avançados do que suas contemporâneas europeias", mas eles desapareceram com a conquista espanhola.

"Documentos do século 16 mostram mulheres defendendo casos perante a corte – um direito que elas perderam após a chegada dos espanhóis, que impuseram seu próprio sistemaloterias govmoral e justiça", conta à BBC News Mundo a antropóloga Susan Gillespie, da Universidade da Flórida.

Gillespie afirma que mulheres e homens colaboravam com seu trabalho para a economia do lar, sem distinções. Era impossível manter a casa sem a colaboraçãoloterias govambos.

"Havia muitas mulheres empreendedoras, que vendiam seus produtos na praça da cidade e traziam os ganhos para casa", conta a especialista.

"Sua contribuição para toda a economia era enorme. Poderíamos dizer que, naquele mundo, as relaçõesloterias govgênero eram mais equilibradas."

Para Prieto, esta sérieloterias govcomportamentos demonstra que, diferentemente dos dias atuais,loterias govque se discute a faltaloterias govdireitos das mulheres, a situação na América pré-hispânica era muito diferente.

"As mulheres não eram julgadas pelo seu gênero", diz o professor.

2. Mais tolerância quanto à diversidade sexual

Prieto também afirma que "não há descriçõesloterias govpessoas julgadas ou perseguidas pelaloterias govhomossexualidade".

"De fato, a cerâmica moche (do Peru antigo) representa cenas homossexuais, tanto entre homens quanto entre mulheres", segundo o professor. "Isso indica que a arte legitimava a orientaçãoloterias govgênero das pessoas."

O historiador emérito da Universidadeloterias govBarcelona, na Espanha, Miquel Izard Llorens, também fala sobre a tolerância e a normalização da homossexualidade entre as tribos pré-hispânicas, que povoavam maisloterias gov70% do continente.

"Quando os espanhóis chegaram, eles descreveram essas sociedades como pessoas sem Deus, sem rei e sem lei", explica o historiador. "Uma descrição muito precisa, pois a vida nessas sociedades giravaloterias govtorno do prazer e elas procuravam a maior quantidadeloterias govprazer possível."

Diversos estudos indicam que a homossexualidade estava presenteloterias govquase todas as culturas pré-hispânicas. De forma geral, havia altos níveisloterias govtolerância, embora seja difícil estabelecer conclusões definitivas devido à faltaloterias govdocumentos suficientes e ao tabu que envolve o tema há séculos.

3. Projetos urbanos e modoloterias govvida sustentável

É fato conhecido que havia no continente americano cidades tão imponentes quanto as da Europa do século 15. Ou mais.

Um exemplo é Tenochtitlán, a capital dos mexicas (astecas), que Hernán Cortés (1485-1547) chegou a considerar "mais impressionante que Roma".

Havia também, no atual território peruano, a grande cidade imperialloterias govCusco e a não menos poderosa Chan Chan, capital do antigo reino Chimú, um dos maiores povoamentos humanos já construídos com adobe no mundo.

Mas talvez seja menos conhecida a alta sofisticação dessas cidades no setorloterias govreciclagemloterias govrecursos e aproveitamentoloterias govágua, dois problemas enfrentados pelo mundo atual.

"Eu me atreveria a dizer que as sociedades pré-hispânicas adotaram conceitosloterias govreciclagem que nós só começamos a discutir na décadaloterias gov1980", afirma Prieto.

O arqueólogo diz que "muitas das pirâmides que conhecemos foram construídas com reciclagem".

"Eles reutilizavam o lixo que produziam e a terra que geravam para erguer grandes monumentos para glorificarloterias govprópria sociedade", aponta.

Cidades importantes da América pré-colombiana contavam com complexos sistemasloterias govdrenagem ou irrigação, que só chegariam à Europa anos mais tarde.

"A agricultura era muito rentável no México e no Peru antigo graças,loterias govparte, aos extraordinários sistemasloterias govirrigação", acrescenta Izard Llorens. "No caso dos incas, é possível que eles estivessem funcionando há milharesloterias govanos, sem prejudicar o meio ambiente."

"E, no caso do México-Tenochtitlán, a sociedade se estabeleceu dentroloterias govum lago com agriculturaloterias govchinampas (uma espécieloterias govcanteiro flutuante),loterias govforma que o próprio lago atuava como provedor e a produção era muito mais fácil do queloterias govCastela (na Espanha), na época", explica o professor.

"Quando o assunto era tecnologia agrícola, muitas dessas sociedades realmente sabiam como trabalhar com o seu entorno, algo que agora estamos retomando", afirma Gillespie.

Mas o professor Mira Caballos destaca a diferença entre as grandes civilizações e as tribos itinerantes que povoavam 70% do continente, vivendoloterias govforma sustentável e autossuficiente, totalmente adaptadas ao seu meio natural, sem modificá-lo.

"É óbvio que os grupos humanos mais evoluídos tiveram maior capacidadeloterias govtransformar a natureza e, portanto, prejudicar o meio ambiente", segundo o professor.

Por muitos anos, na ideologialoterias govprogresso que dominou o mundo, o modoloterias govvida dos grupos pré-hispânicos itinerantes era considerado "bárbaro e atrasado". E este argumento foi usado para justificarloterias govexploração pelo mundo ocidental.

"Mas, pelo menos do pontoloterias govvista atual, esses bandos e tribos não eram necessariamente mais bárbaros do que os recém-formados Estados ocidentais, que logo provocaram hecatombesloterias govmuitos lugares do mundo que, supostamente, eram bárbaros e incivilizados", destaca Mira Caballos.

4. Menos registrosloterias govpobreza extrema

Erradicar a desigualdade e a pobreza extrema é um dos grandes desafios dos nossos tempos, particularmente na América Latina, uma das regiões do mundo com maior desigualdade.

E, embora as sociedades pré-colombianas ainda mantivessem consideráveis diferenças sociais eloterias govacesso a recursos e alimentos entre a elite e o restante da população, não há registrosloterias govpobreza extrema eloterias govlarga escala.

No seu amplo estudo sobre os primeiros nativos americanos que foram à Europa, Mira Caballos relata que, quando chegavam à Espanha, os indígenas procedentes das tribos americanas observavam o suposto progresso do Velho Continente como um mundo bárbaro.

"Mais do que se impressionar pelos edifícios modernos, o que chamava a atenção deles era a pobreza extrema", afirma Mira Caballos. "Eles vinhamloterias govsociedades simples e humildes, mas muito mais igualitárias. Em muitas comunidades aborígenes, não era permitida essa miséria entre os seus membros."

"Do pontoloterias govvista arqueológico, é difícil confirmar o nívelloterias govpobreza que poderia haver, mas temos conhecimentoloterias govum sentidoloterias govcomunidade no mundo asteca, com as pessoas organizadasloterias govbairros onde elas cuidavam uma das outras", comenta Gillespie.

"É verdade que a elite, a realeza e a aristocracia viviam muito bem e que havia pessoas mais pobres do que outras, mas também não há a impressãoloterias govque existisse mendicância, com pessoas sem teto suplicando nas ruas", conclui a antropóloga.