Mounjaro: como funciona novo remédio com efeito superior ao Ozempic aprovado pela Anvisa:poker naipes
A princípio, a tirzepatida está indicada apenas para tratar diabetes, mas ela também passa por estudos que a avaliam como uma possível terapia contra obesidade, apneia do sono, esteatose hepática, doença renal crônica e insuficiência cardíaca.
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Mas como esse novo fármaco funciona? Epoker naipesque casos ele será indicado? Conheça os principais detalhes sobre o Mounjaro ao longo desta reportagem.
Como o Mounjaro funciona
Para Luiz Magno, diretor sênior da área médica da Eli Lilly Brasil, o Mounjaro inaugura uma nova classe farmacêutica e traz resultados "sem precedentes".
"Ele é a primeira molécula que usa um novo mecanismopoker naipesação e atua sobre dois hormônios excretados durante a digestão dos alimentos", resume ele.
Em suma, o novo remédio ativa receptores das células relacionados a dois hormônios que atuam no sistema digestivo: o GIP (sigla para polipeptídeo insulinotrópico dependentepoker naipesglicose) e o GLP-1 (peptídeo 1 semelhante ao glucagon).
Esses tais receptores que são ativados mexem com uma sériepoker naipesprocessos do organismo. O primeiro deles envolve a liberaçãopoker naipesinsulina, hormônio produzido pelo pâncreas que é responsável por retirar da circulação sanguínea o açúcar obtido dos alimentos e botá-lo dentro das células, onde será usado como fontepoker naipesenergia.
Sabe-se que indivíduos com diabetes apresentam problemas na fabricação ou na ação da insulina pelo organismo. Com isso, o açúcar (ou a glicose, no jargão médico) se acumula no sangue e causa uma sériepoker naipesproblemas à saúde —poker naipesinfarto à dificuldade na cicatrizaçãopoker naipesferidas.
Ao melhorar a liberaçãopoker naipesinsulina após as refeições, portanto, o Mounjaro facilita o controle da glicemia (ou das taxaspoker naipesaçúcar na circulação).
Mas a ação do remédio não para por aí: esses receptorespoker naipesGIP e GLP-1 também aparecempoker naipescélulas do cérebro que são responsáveis por controlar o apetite. Com isso, o fármaco ajuda a regular a ingestãopoker naipesalimentos — o que pode levar à perdapoker naipespeso.
O Ozempic, cujo princípio ativo é a semaglutida, também é usado no diabetes e tem uma ação parecida. A diferença é que ele atua apenas sobre um desses hormônios: o GLP-1.
Para buscar a liberação das agências regulatórias, a Eli Lilly realizou dez estudos clínicos, que envolveram maispoker naipes19 mil pacientespoker naipesvárias partes do mundo (inclusive do Brasil).
Um desses testes, conhecido pela sigla Surpass-2, avaliou 1,9 mil pacientes adultos com diabetes tipo 2 e comparou o Mounjaro (em diferentes dosagens) ao Ozempic (semaglutida 1 mg).
Os resultados do experimento foram apresentadospoker naipes2022, durante o Congresso da Associação Americanapoker naipesDiabetes, nos Estados Unidos.
Os dados mostram que, entre os voluntários que tomaram a versãopoker naipes15 mg do Mounjaro, 51% deles conseguiram atingir uma hemoglobina glicada (HbA1c) inferior a 5,7%. Essa mesma meta foi atingida por 20% dos participantes que usaram o Ozempic.
Vale explicar aqui que a HbA1c é um tipopoker naipesexame capazpoker naipesestimar a média da glicose (o açúcar no sangue) durante os últimos três meses. Um valor que fica acima dos 5,7% é um dos indicativos usados por médicos para fechar o diagnósticopoker naipespré-diabetes ou diabetes.
Portanto, ao fazer com que metade dos voluntários ficassem com uma HbA1c inferior a 5,7%, o Mounjaro permitiu que eles atingissem patamares observadospoker naipespessoas que não têm a doença.
"Isso faz dele a medicação mais potente que temos até o momento para tratar o diabetes tipo 2", classifica o médico Paulo Augusto Miranda, presidente da Sociedade Brasileirapoker naipesEndocrinologia e Metabologia (SBEM).
O mesmo teste clínico revelou que 92% dos voluntários tratados com o Mounjaropoker naipes15 mg conseguiram ficar com uma HbA1c abaixopoker naipes7%, que é o nível recomendado pelas diretrizes médicas para um controle adequado do diabetes.
A rapidez com que o ajuste dos índices glicêmicos foi alcançado também chamou a atençãopoker naipesespecialistas: o grupo que tomou o Mounjaro chegou a uma HbA1c abaixopoker naipes7% após oito semanaspoker naipestratamento, quatro semanas antespoker naipesquem recebeu o Ozempic.
E o que aconteceu com o peso? Segundo o estudo Surpass-2, os pacientes que usaram a tirzepatida perderam 12,4 quilos,poker naipesmédia. Os pesquisadores calculam que isso é o dobro do observado com a semaglutida.
Procurada pela BBC News Brasil, a Novo Nordisk, responsável pelo Ozempic, enviou uma notapoker naipesafirma que "a ampliação do arsenal terapêutico para o tratamento da obesidade é, sem dúvida, um marco importante e um pontopoker naipesvirada para uma condição ainda muito negligenciada".
"Estamos diantepoker naipesuma nova era no tratamento da obesidade como doença crônica, multifatorial, recorrente e progressiva,poker naipesque o paciente poderá discutir junto ao seu médico sobre o medicamento que mais precisa e se adequa às suas necessidades individuais", diz o texto.
"Os análogos do GLP-1, comercializados pela Novo Nordisk desde 2009 e inicialmente idealizados para tratar o diabetes tipo 2, têm como diferenciais a promoção do controle glicêmico, perdapoker naipespeso e redução significativa no riscopoker naipeseventos cardiovasculares."
"A semaglutida 2,4 mg, aprovada para o tratamento da obesidade no Brasil desde janeiropoker naipes2023 e já comercializada para este fimpoker naipespaíses como Estados Unidos, Dinamarca, Alemanha e Reino Unido, tem ação prolongada, portanto, agepoker naipesuma área do cérebro chamada hipotálamo que é responsável pela regulação do apetite, levando a uma redução da fome e aumento da saciedade, ou seja, a pessoa tem menos vontadepoker naipescomer e fica rapidamente satisfeita com menores quantidadespoker naipescomida. Isto, aliado à alimentação saudável e equilibrada, atividade física regular e acompanhamento médico adequado, promove perdapoker naipespeso."
"Aspiramos um futuropoker naipesque a semaglutida seja uma terapia básica que permita aos médicos manejar essas condições com proteção mais completa, precoce o suficiente para fazer a diferença na saúde e qualidadepoker naipesvida do paciente."
"Uma terapiapoker naipesação ampla, que poderia ir além do controlepoker naipespeso e glicose para fornecer efeitos abrangentes e modificadores da doençapoker naipestodo o espectro cardiometabólico. A semaglutida permitirá que os médicos tratem proativamente o que veem agora, bem como o que pode acontecer mais tarde, ou seja, tratar hoje possíveis complicações que só apareceriam futuramente", finaliza o texto.
O Mounjaro ajuda a emagrecer?
Que fique claro: o Mounjaro foi aprovado pela Anvisa como um tratamento específico para o diabetes tipo 2.
"Trata-sepoker naipesuma medicação para o paciente diabético, que tem um quadro extremamente complexo. O novo medicamento permite uma redução fantástica da hemoglobina glicada, algo nunca antes visto", pontua Magno.
"O Mounjaro é um medicamento prescrito, que precisapoker naipesacompanhamento médico", complementa o representante da Eli Lilly.
Porém, diante da reduçãopoker naipespeso observada nos estudos clínicos, o novo fármaco deverá passar por uma situação parecida ao que ocorreu com o Ozempic (que também é um tratamento contra o diabetes, diga-se): ter um uso off label, ou fora das indicaçõespoker naipesbula, como uma formapoker naipesperder peso.
Atualmente, a Novo Nordisk possui três versõespoker naipesmedicamento cujo princípio ativo é a semaglutida. A primeira já foi citada anteriormente: o Ozempic, que tem 1 mg do fármaco, é injetável, semanal e está indicado para tratar o diabetes.
A segunda é o Wegovy, com 2,4 mg, uma terapia específica para a obesidade (também injetável e semanal).
A terceira é o Rybelsus, usado contra o diabetes e vem na formapoker naipescomprimidospoker naipes3,7 ou 14 mg.
Essa diversificaçãopoker naipesopções e indicações terapêuticaspoker naipesum mesmo princípio ativo é algo que também deve acontecer com a tirzepatida .
Como citado anteriormente, ela está sendo avaliada para outras condiçõespoker naipessaúde: obesidade, esteatose hepática (acúmulopoker naipesgordura no fígado), apneia do sono, insuficiência cardíaca e doença renal crônica.
Especificamente sobre a obesidade, os dados apresentados são considerados promissores. Nos estudos Surmount-3 e 4, a tirzepatida foi comparada com o placebo (uma substância sem nenhum efeito terapêutico aparente) e permitiu uma reduçãopoker naipespesopoker naipes26% (ou 28 quilos,poker naipesmédia). Aqui foram avaliados voluntários com obesidade ou sobrepeso que tinham comorbidades (doenças crônicas), mas não eram portadorespoker naipesdiabetes tipo 2.
Essa taxa fica bem próxima — epoker naipesalguns casos até é superior — aos resultados obtidos com a cirurgia bariátrica.
De novo: essas novas indicaçõespoker naipesuso ainda precisam ser melhor estudadas antespoker naipesreceberem qualquer aval das agências regulatórias dos países.
Enquanto isso não acontece, Miranda não acredita que o uso off label seja contra-indicadopoker naipesabsoluto — desde que existam evidências para justificá-lo.
"Ambas as medicações [Ozempic e Mounjaro] também foram ou são estudadas para o tratamento da obesidade, e há uma robustez científicapoker naipeseficácia e segurança nesse contexto", destaca ele.
"Mas precisamos nos atentar às terminologias aqui: falamospoker naipesmedicações para o tratamento da obesidade, e nãopoker naipesmedicações para a perdapoker naipespeso ou para emagrecer. Parece uma diferença sutil, mas não é."
"Precisamos separar o que é um desejo socialpoker naipesperdapoker naipespeso. Uma pessoa que quer perder três ou quatro quilos, por uma questão estética, deve buscar esse objetivo por meiopoker naipesmudançaspoker naipesestilopoker naipesvida. Reorganizar a alimentação, as práticaspoker naipesatividade física e o sono são medidas que se demonstraram muito eficazes nessa situação", orienta o endocrinologista.
Segundo o médico, quando a meta envolve enxugar menospoker naipes5% do peso corporal, mudar a dieta, fazer exercícios e cuidar da saúde são o caminho mais adequado.
Agora, quando é necessário perder mais que isso, os remédios podem ser necessários — junto com o acompanhamentopoker naipesum profissional e a adoçãopoker naipesum estilopoker naipesvida saudável, claro.
Efeitos colaterais do Mounjaro
Quando questionado sobre os possíveis eventos adversos da nova medicação, Magno diz que o perfilpoker naipessegurança é similar ao observadopoker naipesoutros fármacos já disponíveis.
Nos estudos clínicos, esses efeitos colaterais foram considerados "leves e moderados".
"Os sintomas afetam principalmente o sistema gastrointestinal, como náuseas, vômitos e diarreia", diz o diretor médico da Eli Lilly.
"Eles costumam ocorrer principalmente na fase inicial do tratamento, por isso também é importante fazer o acompanhamento médico e o aumento progressivo da dosagem", complementa ele.
Miranda destaca que os estudos clínicos fazem modelos matemáticos e estatísticos que ajudam a estimar o riscopoker naipesefeitos colaterais das medicações — mas é sempre necessário ficar atento a possíveis problemas que aparecem na vida real, mas não foram detectados na fasepoker naipespesquisa. As agências regulatórias e as próprias farmacêuticas costumam ter departamentos específicos que lidam com essa vigilância dos fármacos após a aprovação.
"Quando os primeiros agonistas do GLP-1 chegaram ao mercado, houve um alerta sobre um possível riscopoker naipespancreatite [inflamação do pâncreas], o que levou a uma necessidadepoker naipesrevisão dos dados", exemplifica ele.
"Mais recentemente, o órgão regulatório europeu soltou um alerta sobre o usopoker naipessemaglutida e a possibilidadepoker naipesinduçãopoker naipesuma ideação suicida."
"Daí os especialistas foram analisar as evidências e, ao que parece, esse risco não foi demonstradopoker naipesfato", complementa o presidente da SBEM.
O endocrinologista ainda pondera que nenhuma medicação é isentapoker naipesriscos ou eventos adversos.
Quem poderá tomar o Mounjaro?
Por fim, Miranda mostra-se preocupado com o acesso ao Mounjaro.
"A medicação só é eficaz se usada no paciente certo, para o qual a substância foi estudada", diz ele.
"E esses novos medicamentos têm um custo muito elevado. Com isso, infelizmente, a maior parte das pessoas que se beneficiariam deles não conseguirão acesso."
Atualmente, o valor do tratamento com a semaglutida fica na faixa dos R$ 700,00 aos R$ 1 mil por mês.
Ainda não se sabe quanto o Mounjaro vai custar: após o sinal verde da Anvisa, o preço do produto será determinado pela Câmarapoker naipesRegulação do Mercadopoker naipesMedicamentos (CMED), também vinculada ao Governo Federal.
Só a partir disso ele poderá ser vendidopoker naipesdrogarias e comprada pelos consumidores.
E a eventual disponibilização do Mounjaro por planospoker naipessaúde privados ou na própria rede pública ainda envolve uma sériepoker naipesoutras etapas burocráticas, como avaliações da Agência Nacionalpoker naipesSaúde Suplementar (ANS) e da Comissão Nacionalpoker naipesIncorporaçãopoker naipesTecnologias no Sistema Únicopoker naipesSaúde (Conitec).
Magno assegura que a Eli Lilly está aberta para conversar e ampliar o acesso à tirzepatida no Brasil.
"Nós sabemos que não adianta ter a melhor tecnologia se ninguém consegue obtê-la", confessa o médico.
"Nosso compromisso é sempre buscar a melhor forma para garantir o acesso ao tratamento, seja no mercado público ou no privado", complementa ele.
Miranda destaca que a chegadapoker naipesnovas opções para tratar o diabetes permite personalizar cada vez mais o tratamento — e garantir que cada paciente receba o melhor remédio segundo as próprias características e necessidades.
"E nós temos conseguido alguns avanços na área do diabetes, mesmo na rede pública", destaca ele.
Recentemente, o remédio antidiabético dapaglifozina foi incorporado no Sistema Únicopoker naipesSaúde (SUS) e ao programa Farmácia Popular, cita o endocrinologista.
"E precisamos que esses avanços também aconteçam na obesidade: até agora, nosso país não possui nenhuma terapia farmacológica para tratar essa doença na rede pública", destaca o endocrinologista.
De acordo com a Federação Internacionalpoker naipesDiabetes, o Brasil é o sexto país com mais casos da doença no mundo. Maispoker naipes16,8 milhõespoker naipesbrasileiros sofrem com o descontrole nas taxaspoker naipesglicemia, número que deve aumentar para 23,2 milhões até 2045.
Já a obesidade afeta 20,3% da população, segundo o Ministério da Saúde. Essa taxa aumentou 72% nos últimos 13 anos.