O surpreendente 'país' onde imigrantes brasileiros podem ser 30% da população:central de apostas web

Imagemcentral de apostas webuma mulher negra, blusa rosa, com cidade ao fundo

Crédito, Jody Amiet

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A 'franco-guianense-brasileira' Vaneza Ferreira,central de apostas webfoto tiradacentral de apostas webCaiena, capital da Guiana Francesa

“Você ouve portuguêscentral de apostas webtodo lugar. De leste a oeste, há brasileiros aqui”, diz a maranhense Vaneza Ferreira, que mora na Guiana Francesa há 24 anos e trabalha numa organização humanitária com atuação na fronteira e com povos tradicionais.

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Considerando a população total da Guiana Francesacentral de apostas web301 mil habitantes (equivalente àcentral de apostas webPalmas, capital do Tocantins), segundo estimativas do Insee, o órgãocentral de apostas webestatísticas demográficas da França, o número do Itamaraty equivaleria a quase um terço (30,3%) dos moradores daquele território.

Uma fonte do Itamaraty ressaltou à BBC News Brasil que essa proporção pode ser um pouco menor na realidade, já que a população total da Guiana Francesa deve ser maior que os 301 mil, caso fossem consideradas as pessoas que vivem ali sem documentação.

Segundo a estimativa do Brasil, dos 91,5 mil brasileiros no território franco-guianense, 89 mil estãocentral de apostas webCaiena, a capital, a cercacentral de apostas web200 km da fronteira com o Amapá, e 2,5 mil na região da cidadecentral de apostas webSaint Georgescentral de apostas webL'Oyapock, do outro lado da fronteira com o Oiapoque.

Do lado das estatísticas oficiais francesas, dadoscentral de apostas web2020 do Insee apontavam que cerca 30% dos moradores registrados na Guiana Francesa são imigrantes da América, Ásia e Oceania, sem especificar os países .

Em dadoscentral de apostas web2015,central de apostas webque detalhava os grupos migratórios, o Insee já calculava oficialmente que os brasileiros eram 9,2% da população da Guiana Francesa. Além dos brasileiros, os imigrantes mais numerosos no território são os haitianos e os surinameses.

O que torna a Guiana Francesa atrativa?

Gráfico mostra países com mais brasileiros
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BBC Lê

Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

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O que torna a Guiana Francesa especialmente atrativa a brasileiroscentral de apostas webprimeiro lugar, segundo especialistas e moradores do país, é a moeda. Como é parte da França, os trabalhos são pagoscentral de apostas webeuro. Na cotação no iníciocentral de apostas weboutubro, 1 euro equivale a aproximadamente 5,30 reais.

“Eles conseguem ganhar valores que nunca ganhariam no Brasil,central de apostas webfunções como pedreiros, por exemplo”, diz a socióloga Rosiane Martins, professora da Universidade Federalcentral de apostas webAlagoas (UFAL) que desenvolveu pesquisas no Pará e Amapá sobre o movimento migratório à Guiana Francesa.

Em termoscentral de apostas webcomparação, o Índicecentral de apostas webDesenvolvimento Humano (IDH) da Guiana Francesacentral de apostas web2021 era previstocentral de apostas web0,794 , o equivalente a países como Bulgária. O Brasil tem IDHcentral de apostas web0,754, e o da França é 0,903 (quanto mais perto do 1, mais desenvolvido é o lugar).

Além da busca pelo saláriocentral de apostas webeuro, que possa patrocinar uma vida melhor da família por meiocentral de apostas webenviocentral de apostas webrecursos ao Brasil, a migração à Guiana Francesa também tem outras especificidades, segundo a pesquisadora e especialistas no assunto.

A maioria dos brasileiros que vai para o território é naturalcentral de apostas webEstados próximos geograficamente, principalmente Amapá, Pará e Maranhão. São, na maior parte, homens, que buscam empregos na área da construção civil e no garimpo.

Como um atocentral de apostas webesforço do governo francêscentral de apostas webcoibir a entrada ilegalcentral de apostas webbrasileiros no território, é necessário um vistocentral de apostas webturismo, que é solicitado nos consulados da França no Brasil, para acessar temporariamente a Guiana Francesa. Com dinheiro para uma passagem aérea, é mais fácil ir como turista à França, na Europa, onde o brasileiro não precisacentral de apostas webvisto.

Desde 2020, também foi suspensa a emissãocentral de apostas webvistos para Guiana Francesacentral de apostas webMacapá, a capital mais perto da fronteira. Os interessados precisam ir até Brasília para realizar o procedimento.

Segundo um comunicado emitido pelo governo do Amapácentral de apostas webjulho, a gestão estadual tenta fazer acordos com a França para a retomada da retirada dos vistos e também da emissão da carta transfronteiriça para moradorescentral de apostas webOiapoque. Esse documento permite que os moradores da fronteira passem até 72h apenas na cidadecentral de apostas webSaint Georges, do outro lado do rio.

Na ponte binacional entre as duas cidades, inauguradacentral de apostas web2017 após muito atraso, brasileiros precisam mostrar visto e, caso estejamcentral de apostas webcarro, pagar um segurocentral de apostas webautomóvelcentral de apostas webaté 175 euros. A travessia por barco, muitas vezes sem fiscalização, segue sendo a mais utilizada.

Uma fonte do Itamaraty afirma que essas medidas tomadas pela França acontecem porque, "se não, a Guiana Francesa iria virar brasileira, dada a dimensão da população do Brasil e a pressão demográfica que isso iria causar”.

Foguete é visto enquadrado entre bandeiras numa basecentral de apostas weblançamento

Crédito, Getty Images

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Construção da base espacialcentral de apostas webKorou nos anos 1970 levou à primeira ondacentral de apostas webmigração brasileira à Guiana Francesa

Dois tiposcentral de apostas webimigração

Segundo pesquisadores, o primeiro movimento da imigração brasileira ocorreu a partir do fim dos anos 1960 e anos 1970, quando foi construída a 50 kmcentral de apostas webCaiena a Base Espacialcentral de apostas webKorou.

A mãocentral de apostas webobra brasileira foi até incentivada, diante do vazio populacional que existia naquele território. Em 1974, eram estimados 1,5 mil brasileiros ali,central de apostas webgeral qualificados para construção e atuação.

Esse primeiro grupo é considerado por pesquisadores como partecentral de apostas webuma “migração familiar”, que ocorreu com a idacentral de apostas webfamílias inteiras ou ainda com as políticascentral de apostas webreunificação familiar a partircentral de apostas web1976. Essas pessoas formaram uma comunidade estável e permanente, inserida na sociedade local.

Mas, após o término das obras, os brasileiros seguiram sendo mãocentral de apostas webobra primordial na construção da infraestrutura francesa.

Desde aquela época até hoje, há relatoscentral de apostas webbrasileiros reunidos “na praça das Palmeiras (centrocentral de apostas webCaiena) onde aguardavam os empreiteiros chegarem com as pickups anunciando obras”.

As notícias sobre as oportunidades correram nos Estados vizinhos, atraindo mais e mais imigrantes, grande parte com baixa escolaridade e sem os documentos legais. Também foram chegando mais moradores à cidadecentral de apostas webOiapoque, atraídos pelas oportunidades na vida fronteiriça, como a possibilidadecentral de apostas webganharcentral de apostas webeuro e gastarcentral de apostas webreal. Em 2000, eram 12 mil moradores na cidade;central de apostas web2010, já eram maiscentral de apostas web20 mil;central de apostas web2022, a população chegou a 27 mil, segundo o IBGE.

Natural da cidadecentral de apostas webSanta Helena, no Maranhão, Vaneza Ferreira tinha 12 anos,central de apostas web1999, quando atravessou com a mãe, que se casou com um franco-guianense, para o lado francês da fronteira.

Ela faz parte da geração que se estabeleceu permanentemente no território e se considera parte da “diáspora brasileira, que já tem pessoascentral de apostas webaté terceira e quarta geração”.

“Eu me reivindico franco-guianense-brasileira, porque a Guiana adotou a gente”, diz.

Foto aérea mostra avenidacentral de apostas webCaiena

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Caiena, capital e maior cidade da Guiana Francesa, reúne maior quantidadecentral de apostas webbrasileiros no território

Do outro lado dessa moeda, há milharescentral de apostas webbrasileiros que não criam vínculos com o território e vão ali muitas vezes para atuarcentral de apostas webatividades ilegais, como o garimpocentral de apostas webminascentral de apostas webouro, explica a pesquisadora Rosiane Martins.

"Se pensar nos migrantes clandestinos, é incontável. A cada legalizado que eu encontrava morando lá, havia até sete morandocentral de apostas websublocações,central de apostas webforma irregular". diz Martins.

São,central de apostas webgeral, homens que cruzam o rio no Oiapoque para ganhar algum dinheiro e voltar ao Brasil. Muitas vezes são detidos e levados pela polícia francesacentral de apostas webvolta ao Amapá. As mulheres conseguem vagas na faxina, cozinha e muitas vezes são exploradas numa redecentral de apostas webprostituição.

Segundo um relatóriocentral de apostas web2016 da então Agência Francesacentral de apostas webCoesão Social e Igualdadecentral de apostas webOportunidades, o crescimento da população brasileira na Guiana Francesa está principalmente relacionado ao ressurgimento da atividadecentral de apostas webmineraçãocentral de apostas webouro desde meados da décadacentral de apostas web1990.

De acordo com Martins, as redes que cooptam esses migrantes atuam principalmente no Maranhão, Amapá e Pará.

Muitos desses imigrantes vivem no vai e vem na fronteira, mas outros acabam tentando a vidacentral de apostas webCaiena, onde vivemcentral de apostas websituação extremamente vulnerável, invadindo terrenos e criando ocupações e favelas.

"Eles vão ficando porque é perto, fácilcentral de apostas webvoltar ao Brasil, tem o fuso horário igual, clima igual. E acabam convivendo bem numa sociedade multiétnica", explica Martins. "Alguns vão querendo voltar, mas não conseguem fugir mais dessa realidade".

“A gente que está dentro da sociedade, temos nossa segurança, como se proteger. Mas essas pessoas são exploradas, estãocentral de apostas webrisco constante. As pessoas precisam tomar cuidado com a ilusão desse trabalho ilegal. A gente recebe todos os dias notícias dramáticas vindas da floresta”, diz Vaneza Ferreira, que vêcentral de apostas webperto a realidade no seu trabalho.

Uma fonte do Itamaraty com relações na Guiana Francesa disse que “vira e mexe recebe no celular fotocentral de apostas webcadáver".

"Também presenciei a situaçãocentral de apostas webhumilhaçãocentral de apostas webcentenascentral de apostas webbrasileiros que são deportados toda semana para Belém e Macapá”, disse a fonte.

O caminho para se legalizar é considerado cada vez mais difícil. Mas isso não quer dizer que o fluxo diminui. "São pessoas que consomem, trabalham por um valor baixo, fazem parte da economia. Então,central de apostas webmomentoscentral de apostas webnecessidade, a fiscalização diminui, não colocam tantas barreiras", diz Rosiane Martins.

Açaí e ‘frantuguês’

Homem sentando numa pedra com o mar ao fundo

Crédito, Arquivo Pessoal

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Filhocentral de apostas webbrasileira com franco-guianense, o paraense Pierre toca música brasileira na noitecentral de apostas webCaiena

A presença massivacentral de apostas webbrasileiros na Guiana Francesa pode ser percebida no dia a dia no território, segundo moradores.

Há restaurantes do tipo self service com churrasco espalhados por Caiena, festas onde se ouve música pop brasileira e igrejas evangélicas nos bairros.

“Quando cheguei aqui, o açaí por exemplo só era consumido por brasileiros. Hoje é universal e todo mundo aqui come, como o paraense, acompanhadocentral de apostas webum peixe frito, uma carne”, diz Pierre Cupidon, 35 anos, que trabalha como DJ e na construção civil, instalando redescentral de apostas webágua e internet.

Como o pai dele era da Guiana Francesa, ele se mudou com a mãecentral de apostas webBelém para a regiãocentral de apostas webCaienacentral de apostas web2002.

"Há festas que eu só toco música brasileira. Claro, há influênciascentral de apostas weboutros países também, mas o Brasil é muito presente".

Outro exemplo é no vocabulário, que muitas vezes mistura o francês com o português e até com o creole (a língua local). “Tem gente que chama 'amiga' aquicentral de apostas web‘copina’. É como se fosse uma aportuguesadacentral de apostas web‘copine’, que é 'amiga'central de apostas webfrancês”, exemplifica Vaneza Ferreira.

Diantecentral de apostas webum território diversocentral de apostas weborigens, os brasileiros sentem que há uma intensa troca cultural.

“É engraçado porque a gente ainda é bem pequenininho comparado a outras cidades do Brasil, mas a diversidade cultural é enorme, enriquece o território”, diz Ferreira.

“O povocentral de apostas websi aqui se sente mais parte da América Latina do que da França”, opina Cupidon.

As Guianas

Ponte estaida sobre rio

Crédito, Gerardo Lissardy/BBC

Legenda da foto,

Ponte sobre o rio Oiapoque conecta Brasil e Guiana Francesa, mas é pouco utilizada

A chamada região das Guianas (que inclui Guiana Francesa, Suriname, Guiana e ainda o Estado brasileiro do Amapá e a região venezuelanacentral de apostas webGuayana) foi alvocentral de apostas webdisputa entre os colonizadores europeus desde o século 16, com a presençacentral de apostas webespanhóis, portugueses, ingleses, holandeses e franceses.

A Guiana (antes chamadacentral de apostas webGuiana Inglesa) conseguiu independência do Reino Unido e se tornou um paíscentral de apostas web1966. O Suriname (antes Guiana Holandesa) passou pelo mesmo processocentral de apostas web1975, separando-se do Reino dos Países Baixos. A ocasionalmente chamada "Guiana Portuguesa" virou Estado do Amapá no Brasil, e a parte da Guiana Espanhola somou-se à Venezuela.

A Guiana Francesa, porcentral de apostas webvez, nunca se separou da França. Oficialmente, o território faz parte da União Europeia,central de apostas webmoeda oficial é o euro ecentral de apostas webpopulação tem cidadania francesa.

Economicamente, a Guiana Francesa segue dependente da França.

Como boa parte da América do Sul, o território foi colonizado como uma sociedade escravista, onde plantadores importavam escravizados da África.

Após o fim da escravidão, a França estabeleceu ali uma colônia penal, com uma redecentral de apostas webcampos e penitenciárias onde prisioneiros do país eram enviados a trabalhos forçados.

A primeira ondacentral de apostas webimigração à região aconteceu com os chineses ainda no século 19, para trabalhar nas plantaçõescentral de apostas webaçúcar, ecentral de apostas webpessoas vindas da ilha caribenhacentral de apostas webSanta Lúcia.

A partir dos anos 1960, porém, três grupos se sobressaíram nesse movimento migratório: os haitianos (também colonizados por franceses), os vizinhos surinameses e os brasileiros. Em 2016, essas três nacionalidades representavam 90%central de apostas webtodos os imigrantes do país, segundo o órgãocentral de apostas webestatísticas da França.