Há 35 anos, um desempregado sequestrou um avião — seu plano era atingir o Palácio do Planalto e matar o presidente:chute no alvo betano
Emchute no alvo betanomochila, Conceição portava 90 balas para recarregar a arma.
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Para o tratorista, a culpa pela situação econômica que havia feito com que ele perdesse seu emprego era do presidente, José Sarney. De acordo com dados do Dieese-Sead, naquele ano o desemprego no Brasil oscilou entre 9% e 11%. A inflação era galopante:chute no alvo betanomédia, 17,7% ao mês.
Conceição trabalhavachute no alvo betanoempreiteiraschute no alvo betanoconstrução civil. Comprou a arma e embarcou no último trecho do voo, que decolou às 10h52 no Aeroportochute no alvo betanoConfins, regiãochute no alvo betanoBelo Horizonte
Tiros e morte
Vinte minutos depois, já no espaço aéreo do Rio, começouchute no alvo betanoação. Deixando claro que se tratavachute no alvo betanoum sequestro, ele disse que queria entrar na cabinechute no alvo betanocomando e baleou um comissário que tentou impedi-lo. Conceição disparou vários tiros contra a porta da cabine — um deles atingiu outro comissário, outro acertou o painel do avião.
Com receiochute no alvo betanoque a situação se tornasse ainda mais descontrolada, a tripulação decidiu ceder a ele acesso à cabine. Sem que o sequestrador notasse, o piloto, Fernando Murilochute no alvo betanoLima e Silva (1944-2020) conseguiu passar ao Centro Integradochute no alvo betanoDefesa Aérea e Controlechute no alvo betanoTráfego Aéreo (Cindacta) o código correspondente à “interferência ilícita” ocorrendo a bordo.
Quando o copiloto, Salvador Evangelista, tentava se comunicarchute no alvo betanovolta com o Cindacta pelo rádio, Conceição o baleou na nuca, matando-o na hora. Com a arma apontando para o piloto Lima e Silva, o sequestrador então determinou seu plano: que o avião retornasse para Brasília.
O comandante foi hábil e conseguiu dissuadi-lo da ideiachute no alvo betanochocar o Boeing contra o Palácio do Planalto. Argumentou que não havia condiçõeschute no alvo betanovisibilidade para isso. Mas Conceição não topou que o avião pousasse no aeroportochute no alvo betanoBrasília — queria que fossechute no alvo betanoSão Paulo.
Não havia combustível para tanto. Depoischute no alvo betanomanobras ousadas — para desequilibrar o sequestrador — e com um dos motores falhando, Lima e Silva conseguiu pousar no Aeroporto Internacional Santa Genoveva,chute no alvo betanoGoiânia, às 13h45.
Foram horaschute no alvo betanonegociaçãochute no alvo betanoterra. Às 19h, Conceição desceu da aeronave usando o piloto como escudo humano. Foi alvejado com dois tiros na altura dos rins por agenteschute no alvo betanoelite da Polícia Federal. Uma terceira bala também atingiu o piloto, na perna.
Encaminhado a um hospital, o sequestrador passou por uma cirurgiachute no alvo betanoemergência e foi anunciado que não corria riscochute no alvo betanovida. Dias depois, contudo, morreu no hospital — o laudo apontou quechute no alvo betanodecorrênciachute no alvo betanoanemia falciforme, sem relação com o fatochute no alvo betanoele ter sido baleado.
Protocoloschute no alvo betanosegurança
O caso se tornou um marco histórico da aviação brasileira. “Difícil dizer se houve erros quando há alguém mal-intencionado e uma circunstância inédita acontece”, comenta à BBC News Brasil a professora Larissa Ferrer Branco, arquiteta que estuda operações aeroportuárias e coordena cursoschute no alvo betanoengenharia na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
“Em todas as indústrias e setores aprendemos sempre com casos novos, cenários improváveis ou até mesmo impensáveis. A segurança na aviação é altíssima há muitas décadas e os indicadores só melhoram”, acrescenta ela, lembrando que “é injusto julgar fatos do passado com o conhecimento que temos hoje”.
“Mas a rigor, pode-se dizer que os fatores que contribuíram para o caso dificilmente voltariam a se repetir hojechute no alvo betanodia, com a invasão da cabinechute no alvo betanocomandochute no alvo betanouma aeronave comercial por um passageiro armado”, frisa Branco.
“É praticamente impossível pensar que o aparatochute no alvo betanosegurança aeroportuária atual seria permeável a pontochute no alvo betanoalguém entrar armado a bordo sem conhecimento do comandante da aeronave, sem seguir rígidos protocoloschute no alvo betanoverificação. Além do mais, desde depois dos ataqueschute no alvo betano11chute no alvo betanosetembro [de 2021, nos Estados Unidos], as portas das cabines permanecem fechadas praticamente todo o tempo, só são abertas mediante protocolos muito rigorosos e são blindadas.”
Investigadorchute no alvo betanoacidentes aeronáuticos e gestorchute no alvo betanocrises, Mauricio Pontes, CEO da C5i Crisis Consulting, explica à reportagem que um sequestro como este não aconteceria nos diaschute no alvo betanohoje por conta dos protocoloschute no alvo betanosegurança implementadoschute no alvo betanolá para cá.
“A começar pela revista no embarque, equipamentos, regras para transportechute no alvo betanoarma a bordo e treinamentos específicos”, enumera ele, lembrando que isso tudo “poderia ter feito diferença”. “Mas a cultura da época não contemplava esses cenários no país”, comenta.
Piloto-aluno na época, Pontes recorda que viu a cobertura televisiva do acontecimento. Ele acredita que os méritos foram do piloto para que uma tragédia não ocorresse.
“Acho que toda a atuação do comandante, com frieza, perícia e raciocínio sob pressão, foram decisivos”, diz. “A crisechute no alvo betanosi foi um caos. O presidente [da República] sequer foi retiradochute no alvo betanoseu gabinete, prédios não foram evacuados, enfim… Difícil falarchute no alvo betanoerros e acertoschute no alvo betanoum episódio com um enredo tão complexo.”
Segundo ele, pilotos na época recebiam um treinamento muito básico sobre como se comportarchute no alvo betanocasos assim.
“Conheciam-se regras sobre como agirchute no alvo betanocasochute no alvo betanointerceptação e uso do transponder para informar aos órgãoschute no alvo betanocontrole um atochute no alvo betanointerferência ilícita”, cita. “Não era uma preocupação a pontochute no alvo betanotirar um tripulante por mais horas do cockpit para um treinamento específico.”
Atualmente, a questão é tratada com mais cuidado, com treinamentos periódicos que preparam pilotos e comissários para eventuais enfrentamentos, “desde casoschute no alvo betanopassageiros indisciplinados que põemchute no alvo betanorisco a segurança do voo até situações mais específicas e potencialmente fatais, como sequestros”.
“O comandante [do voo da Vasp no caso] foi um exemplochute no alvo betanoprofissional e se tornou um herói. Mesmo com o primeiro oficial [o copiloto] baleado, ele foi hábil e extremamente equilibrado para conduzir o sequestrador ao longo da ocorrência, evitando um desfecho que poderia ser catastrófico”, comenta a professora Branco.
“A aeronave pouso e os passageiros e tripulantes saíram ilesos, assim como prédios públicos e pessoaschute no alvo betanoterra, que eram alvo do sequestrador. Entendo que ele [o piloto Lima e Silva] acertouchute no alvo betanotudo: a forma como conduziu uma situação extremamente incerta e grave, as manobras que fez para desestabilizar o sequestrador, a perícia e o profissionalismo, e a capacidadechute no alvo betanotrazer a aeronavechute no alvo betanovolta ao solo com segurança”, acrescenta ela.
Pontes lembra, contudo, que as melhoriaschute no alvo betanosegurançachute no alvo betanovoo só foram implementadaschute no alvo betanofato após o 11chute no alvo betanosetembro, e não depois desse fato brasileiro.
“O assunto [do voo da Vasp] teve a repercussão típica dos grandes eventos na mídia por um curto período, mas foi rapidamente esquecido. Nada significativochute no alvo betanofato ocorreuchute no alvo betanotermoschute no alvo betanoprocedimentos, ao que eu me lembro”, comenta. “Tanto que,chute no alvo betanojulhochute no alvo betano1997, um homem entrou facilmente [com um explosivo] no voo TAM 283 entre São José dos Campos e São Paulo sem ter passado pelo raio-X e a explosão a bordo matou um passageiro.”
O especialista acrescenta que tal ocasião específica deixou “a faltachute no alvo betanosegurança dos aeroportos brasileiroschute no alvo betanoxeque e a necessidadechute no alvo betanoinspeção por raio-X virou um tema levado mais a sério”.
“Mas só mesmo após o 11chute no alvo betanosetembro houve uma revolução na segurança da aviação brasileira”, acrescenta. “Mais recentemente, após o evento com o Germanwings 9525, quando o copiloto jogou a aeronave propositalmente contra o solo [em marçochute no alvo betano2015, nos Alpes franceses], protocolos mais rígidos sobre acesso à cabinechute no alvo betanopilotos e outras medidas foram rapidamente colocadoschute no alvo betanoprática no mundo todo, incluindo o Brasil.”
Branco concorda. “De 1988 para cá a aviação comercial mundial, e não só a brasileira, mudou bastantechute no alvo betanotermoschute no alvo betanoprevenção a sequestros”, ressalta ela. “Instalaçõeschute no alvo betanoum enorme aparatochute no alvo betanosegurança para embarque dos passageiros nos aeroportos, proibiçãochute no alvo betanoacessochute no alvo betanopassageiros nas cabineschute no alvo betanocomando durante os voos, inúmeros procedimentos operacionais antes, durante e depois dos voos para impedir o acessochute no alvo betanopessoas estranhas às operações nas áreas onde as aeronaves estacionam quando chegam e anteschute no alvo betanopartirem são só algumas dessas mudanças.”
“Mas nenhuma delas tem correlação direta com o caso do Vasp 375. Essas mudanças ocorreram mais tarde, após 11chute no alvo betanosetembrochute no alvo betano2001. De 2001 para cá podemos dizer que as áreaschute no alvo betanosegurança mudaram completamentechute no alvo betanorelação ao que ocorria antes”, destaca a especialista.
Um filme brasileirochute no alvo betanoação
A ideia do filme, que se chamará ‘O Sequestro do Voo 375’ veiochute no alvo betanoconsequência a um outro “quase acidente”. No caso, envolvendo o jornalista Constâncio Viana Coutinho, quechute no alvo betano2011, atuando como correspondente da TV Record na África, estevechute no alvo betanoum voo que precisou fazer uma manobra arriscadachute no alvo betanoMoçambique.
“Foi uma situação bem séria, com o avião apontando o bico para baixo. Achei que aquele momento seria o fimchute no alvo betanominha vida. Foi tão traumático que eu desenvolvi síndrome do pânico e desde então tenho muita dificuldade para entrarchute no alvo betanoavião”, conta ele, à reportagem.
O fato fezchute no alvo betanoCoutinho um obsessivo pesquisadorchute no alvo betanoacidentes aéreos. E então, recuperando o caso da Vasp, ele passou a esboçar um roteiro para um documentário.
“Mas não foi possível fazê-lo, não consegui apoio, financiamento”, relata.
Mais tarde, contudo, seu roteiro acabou caindo nas graças do roteiristachute no alvo betanocinema Lusa Silvestre. “E resolvemos que seria um filme”, diz Coutinho. “Ele [Silvestre] foi o primeiro cara que entrou no negócio, disse que estava dentro. Então eu passei a buscar outras pessoas para contar as lembranças do acontecimento.”
Coutinho ressalta que o filme “é uma homenagem direta ao piloto”, que teve “papel heróico” reconhecido por “todos os passageiros”. “Ele pousou praticamente sem combustível e fazendo manobras impensadas. Morreu [em 2020] com uma grande mágoa porque mesmo depoischute no alvo betanotudo oque ele fez,chute no alvo betanoter salvado tantas vidas, o Sarney nunca reconheceu isso, nunca agradeceu.”
Com o filme prestes a ser lançado, o jornalista pretende também publicar um livro a respeito. O título provisório é ‘Nas Mãos Certas’.
Em conversa com a BBC News Brasil, o roteirista Silvestre enfatiza que o que será visto nas telas “é uma história real”. “A gente não mudou a história. O que fizemos foi lançar um pouco maischute no alvo betanoluz sobre algum personagem aqui e ali, contar um pouco mais, imaginar os subterrâneos do governo federal enquanto estava-se lidando com o sequestro”, comenta. “Mas a história é real, inclusive as acrobacias feitas pelo avião.”
“E incrivelmente teve um cara mesmo que sequestrou um avião para jogar no Palácio do Planalto”, resume.
CEO do Estúdio Escarlate, a produtora Joana Henning conta à reportagem que o maior desafio empreendido pela equipe foi fazer “um tipochute no alvo betanofilme que nunca tinha sido feito no Brasil” — no caso, uma históriachute no alvo betanoação envolvendo um avião. “As referênciaschute no alvo betanodesenhochute no alvo betanoprodução eram todas internacionais. Tivemoschute no alvo betanocriar soluções alternativas com menos recursos, conseguindo dar qualidade para a cenachute no alvo betanoação que o filme merecia”, destaca, revelando que para isso foram empregadas técnicas circenses e recursos das indústrias do carnaval e da publicidade.
O diretor do filme, Marcus Baldini lembra que “esse é o 11chute no alvo betanosetembro brasileiro, o quase 11chute no alvo betanosetembro brasileiro”.
“E é muito surpreendente que ninguém conheça essa história”, diz ele, à BBC News Brasil. “O filme é um jeitochute no alvo betanocontar para as pessoas uma história muito importante que estava esquecida, sobre um herói brasileiro que salvou a vidachute no alvo betano110 pessoas com suas habilidades e capacidadechute no alvo betanomanter o controle. E isso foi importante para que essa história tivesse um final minimamente feliz.”
O especialista Pontes reconhece que se tratachute no alvo betanouma história por muito tempo relegada ao esquecimento. “O sequestro do Vasp 375 foi sumariamente apagado da memória nacional. Não teve a repercussão internacional que merecia, tampouco”, diz.