As 'pistas' sobre visão do Brasil no século 19 deixadas por famoso pintor francês:jogar jogo de cassino

Mais tarde, o órgão pediu desculpas e afirmou que se tratavajogar jogo de cassinouma falha, e nãojogar jogo de cassinoum ato racista.

A direção, porém, segundo o jornal Folhajogar jogo de cassinoS. Paulo daquele ano, não esclareceu por que a imagem foi parar lá. A atual gestão do governo paulista disse apenas à BBC News Brasil que o Arquivo Público realizou na época uma apuração interna e ações pedagógicas.

O autor da obra que causou a minicrise era Jean-Baptiste Debret (1768–1848), um francês que chegou ao Brasiljogar jogo de cassino1816 como partejogar jogo de cassinoum grupo para documentar — e construir a imagem — da primeira corte europeia a reinar a partir dos trópicos. A família real portuguesa havia abandonado o continentejogar jogo de cassino1808 após as invasões napoleônicas.

Mas, como foi o casojogar jogo de cassinoCastigo do Açoite, Debret se dedicou a uma sériejogar jogo de cassinopinturas que vão bem alémjogar jogo de cassinocenasjogar jogo de cassinoluxo da vida aristocrática.

São desenhos e aquarelas que, mais tarde, formariam um registro fundamental do cotidianojogar jogo de cassinoviolência na sociedade brasileira colonial e imperial — a qual quase sempre recaía sobre negros escravizados e indígenas arrancadosjogar jogo de cassinosuas terras.

O filósofo franco-suíço Jacques Leenhardt explora no seu recente livro Rever Debret (2023, editora 34) o impacto do pintor até a atualidade — revisitado (e subvertido) por artistas brasileiros da nova geração.

O livro aborda também o papeljogar jogo de cassinoDebretjogar jogo de cassinocapturar um paísjogar jogo de cassinoformação após a concretização da independência.

Leenhardt defende que Debret se esforçoujogar jogo de cassinorepresentar "os verdadeiros atores da história emergente do Brasil, a saber, os trabalhadores que produzem as riquezas do país".

Essa avaliação se contrapõe à imagemjogar jogo de cassinoque o retratista teria servido apenas aos detentores do poder na época.

Em entrevista à BBC News Brasil, o autor diz que Debret foi influenciado pelo iluminismo e pela Revolução Francesa, "convencido da igualdade dos seres humanos".

Segundo Leenhardt, o pintor condenava o tráficojogar jogo de cassinopessoas e compartilhava a ideiajogar jogo de cassinoque a abolição deveria ser preparada para garantir a integração dos ex-escravos à sociedade.

"Podemos ver traçosjogar jogo de cassinoum certo paternalismo [de Debret] ligado aos preconceitos raciais da época. Por outro lado, Debret critica sem reservas a violência perpetrada contra as populações indígenas e que marcaram as relações raciais no Brasil colonial escravocrata."

As relações socieconômicas entre as várias populações daqueles tempos também entraram na mirajogar jogo de cassinoDebret. É o casojogar jogo de cassinoLojajogar jogo de cassinoBarbeiro (veja abaixo),jogar jogo de cassinoque o artista contrasta — e explicita isso no comentário que acompanha o desenho — a atitudejogar jogo de cassinoportugueses e negrosjogar jogo de cassinorelação ao trabalho.

"A loja vizinha [à residência do branco dorminhoco] é ocupada por dois negros livres. Antigos escravosjogar jogo de cassinoofício,jogar jogo de cassinoboa conduta e econômicos, conseguiram comprarjogar jogo de cassinoalforria (...). Quem com efeito ousaria dizer-se mais dignojogar jogo de cassinoconsideração pública que este ofíciojogar jogo de cassinobarbeiro brasileiro", diz o comentário.

Lenhardt escreve que Debret "estigmatiza com método a preguiça dos colonos portugueses" — muitos dos quais viviam apenas à custa do diajogar jogo de cassinotrabalho dos seus escravos pelas ruas do Rio.

Um grande fracasso

Ao longos dos 15 anosjogar jogo de cassinoresidência no Riojogar jogo de cassinoJaneiro como capital imperial, Debret fez maisjogar jogo de cassino800 trabalhos — entre os quais foram selecionados 152 para as pranchas litografadas do seu Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, livro publicadojogar jogo de cassinoParis entre 1834 e 1839.

Apesar do interesse europeu pelo "exotismo do Novo Mundo" apresentado por um grande númerojogar jogo de cassinoviajantes e aventureiros da época, a coleçãojogar jogo de cassinoDebret naufragou entre o público.

O livro do pintor alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858), publicado pela mesma editorajogar jogo de cassinoParis, teve, porjogar jogo de cassinovez, muito mais repercussão e sucesso — emborajogar jogo de cassinoprecisão como tradução da realidade do continente americano fosse contestada por botânicos e outros especialistas.

Leenhardt credita parte do fiascojogar jogo de cassinopopularidadejogar jogo de cassinoDebret à opçãojogar jogo de cassinomostrar cenas barra-pesada do Brasiljogar jogo de cassinovezjogar jogo de cassinoapresentar índios com artefatos vistosos com o objetivojogar jogo de cassinosaciar a demanda do leitor europeu por "exotismo".

Em vez disso, trabalhos como Selvagens Civilizados, Soldados Índiosjogar jogo de cassinoCuritiba Conduzindo Prisioneiros (ver abaixo) mostram mães indígenas sendo trazidas com seus filhos para trabalhar como escravizadas nas cidades após os maridos terem sido assassinados nas aldeiasjogar jogo de cassinoorigem — devassadas.

Essas situações são explicadasjogar jogo de cassinocomentáriosjogar jogo de cassinocantojogar jogo de cassinopáginajogar jogo de cassinoDebret, os quais formam o pouco que se pode depreender das impressões do pintor (em palavras) sobre o Brasil — não ficaram um diário ou qualquer trocajogar jogo de cassinocorrespondências.

Em algumas oportunidades, essa brutalidade dos quadrosjogar jogo de cassinoDebret representou um constrangimento para autoridades brasileiras.

Em 1840, a Comissão do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro vetou o tema da coleção sobre escravidão sob a justificativajogar jogo de cassinoapresentar corpos esqueléticos e torturadores sádicos: "Pode ser que o sr. Debret tenha assistido a um tal castigo, com efeito existem por toda parte feitores bárbaros: porém isso não é senão um abuso".

Assim, Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil desapareceu da vista do público até, na décadajogar jogo de cassino1920, o antropólogo Sérgio Milliet traduzir o trabalho para o português.

Com uma mudançajogar jogo de cassinomentalidade, o pintor francês passa nas décadas seguintes a ser reconhecido como uma das fontes documentais essenciais sobre o primeiro império brasileiro.

Mas ao longo do tempo, houve também interpretaçõesjogar jogo de cassinoque o retratista ou a artejogar jogo de cassinosijogar jogo de cassinoalguma forma apoiassem os atos representados na tela.

"Gê Viana, uma das artistas cujas revisões críticas das imagensjogar jogo de cassinoDebret estou estudando, fala sobre como ficou chocada com o fatojogar jogo de cassinoque os livros didáticosjogar jogo de cassinohistória nos quais ela descobriu as imagensjogar jogo de cassinoDebret não ofereciam nenhuma explicação ou contextualização dessas imagens violentas", afirma Leenhardt.

Ele fala na necessidadejogar jogo de cassinocontextualizar histórica e socialmente a obrajogar jogo de cassinoDebret.

"É fácil entender por que isso a perturbou, e é vital que as novas geraçõesjogar jogo de cassinoartistas confrontem essas imagens e ofereçam estratégias para lê-las hoje. Não é menos importante que todo esse trabalhojogar jogo de cassinoretomada seja acompanhadojogar jogo de cassinouma reflexão sobre a evolução das sensibilidades e concepções políticas e filosóficas."

Alémjogar jogo de cassinoGê Viana, Leenhardt analisa no livro releituras feitas por Denilson Baniwa, Isabel Löfgren, Patricia Gouvêa, Heberth Sobral, entre outros "artistas brasileiros contemporâneos que se referenciam e subvertem as imagensjogar jogo de cassinoDebret".

"É um movimentojogar jogo de cassinoreapropriação absolutamente essencial, uma contribuição importante para uma questão incômoda ao longo da história intelectual e política brasileira: quem somos nós como nação? Acho que é muito útil e benéfico para uma nova geraçãojogar jogo de cassinoartistas se posicionar sobre as imagens que lhes foram legadas", afirma o franco-suíço.

Refletir sobre a obrajogar jogo de cassinoDebret à luz do entendimento atual da história brasileira pode ser um bom exercício, diz Leenhardt.

"Assim, veremos não apenasjogar jogo de cassinoambivalência e contradições, mas também a extensão da poderosa ironia que ele usou como uma arma impiedosa contra os poderosos da época."

"Suas descrições das cenas que adornam suas placas litografadas são muitas vezes verdadeiros contos,jogar jogo de cassinoapenas algumas páginas, uma espéciejogar jogo de cassino'fisionomia' no estilojogar jogo de cassinoBalzac que ridiculariza os costumesjogar jogo de cassinosua época", completa.