Nobeljogo paciência spiderMedicina 2023: a história dos cientistas que ganharam o prêmio pela tecnologia que levou às vacinasjogo paciência spiderPfizer e Moderna:jogo paciência spider
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Fim do Matérias recomendadas
Mini-impressoras dentrojogo paciência spidernós
Com exceçãojogo paciência spideróvulos e espermatozoides, todas as células do nosso corpo carregam dentro do núcleo o genoma completo, o DNA.
Nesse conjuntojogo paciência spidercromossomos, estão "escritas" muitas das informações que definem os processos orgânicos, as características físicas e a propensão a determinadas doençasjogo paciência spidercada umjogo paciência spidernós.
Mas o DNA sozinho não faz nada: quando ele precisa enviar algum comando à célula, essa fitajogo paciência spiderdupla hélice gera uma cópia simplesjogo paciência spiderdeterminado trecho do código genético.
Esse "xerox" genético vem numa fita simples e é o que conhecemos como RNA mensageiro, ou mRNA.
Esse material então sai do núcleo e viaja até os ribossomos, no citoplasma da célula. Essa estrutura lê a "receita" genética do mRNA e fabrica uma proteína específica relacionada àquele comando escrito no DNA.
Desde que esse mecanismo foi conhecido, a partir dos anos 1960, os cientistas começaram a se perguntar: será que é possível aproveitar essas "mini-impressoras" que carregamos dentro das células para produzir proteínas específicas?
O objetivo era que essas proteínas tivessem algum fim terapêutico, e pudessem servir para gerar uma resposta do sistema imunológico — o que permitiria combater o crescimentojogo paciência spiderum tumor ou a invasãojogo paciência spiderum vírus mortal, por exemplo.
Pedras pelo caminho
Mas é claro que a ideia não funcionou logojogo paciência spidercara. A principal barreira a ser superada tinha a ver com o fatojogo paciência spidero mRNA ser uma molécula muito frágil — como se trata apenasjogo paciência spideruma mensageira, ela logo se degrada no organismo.
Nos primeiros experimentos, os mRNAs sintetizadosjogo paciência spiderlaboratório sequer conseguiam chegar perto das células. Eles estragavam pelo caminho, antesjogo paciência spidercumprir a missão para o qual foram projetados.
Além disso, esses compostos se mostraram altamente inflamatórios. Eles geraram uma reação imunológica forte, que colocavajogo paciência spiderrisco o próprio uso desse princípio na medicina.
Essas dificuldades foram superadas graças a dois trabalhos distintos. O primeiro deles, comandado pelo justamente médico americano Drew Weissman e pela bioquímica húngara Katalin Karikó, descobriu que algumas modificações básicas na estrutura do mRNA poderiam deixá-lo menos inflamatório.
Esse esforço, aliás, rendeu à dupla o Prêmio Nobeljogo paciência spiderMedicina e Fisiologiajogo paciência spider2023.
O segundo, que envolveu vários gruposjogo paciência spiderpesquisa, como o comandado pelo bioquímico canadense Pieter Cullis, descobriu que "embrulhar" a fitajogo paciência spidermRNA numa nanopartículajogo paciência spiderlipídios (ou gordura) é uma forma eficazjogo paciência spiderprotegê-lo da degradação. Assim, essa molécula pode ser injetada, viajar pelo organismo e chegar às células onde cumprirá a função para a qual foi projetada.
"Com essas modificações, a ciência estava diantejogo paciência spideruma ferramenta potente e poderosa", disse o biomédico Joel Rurik, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, numa entrevista à BBC News Brasiljogo paciência spidermaiojogo paciência spider2023.
"Trabalhar com o mRNA é algo relativamente simples e rápido. Basta fazer o download da sequência genética no computador e pedir para uma bioimpressora imprimir este material. Você consegue produzir toneladas dele sem a necessidadejogo paciência spiderusar uma única célula", complementou o cientista.
"Falamos, portanto,jogo paciência spideruma estratégia eficaz do pontojogo paciência spidervista dos custos, estável, com facilidadejogo paciência spiderdistribuição e que pode ser usadajogo paciência spiderforma mais ampla ou fácil que muitas ferramentas terapêuticas oujogo paciência spiderengenharia imunológica", resumiu.
'Estreia' antecipada
Ainda que os testes clínicos com as primeiras vacinasjogo paciência spidermRNA tenham começado no início dos anos 2000, a comunidade científica esperava que as primeiras versões comercialmente disponíveis, aprovadas pelas agências regulatórias, só chegassem ao mercadojogo paciência spidermeadosjogo paciência spider2025.
Até que veio a covid-19 e tudo mudou. A emergência da pior pandemiajogo paciência spiderum século exigiu que muitos especialistas mudassem os planos e começassem a estudar um vírus absolutamente novo: o Sars-CoV-2.
Assim que o sequenciamento genético do causador da covid foi concluído, aindajogo paciência spiderjaneirojogo paciência spider2020, os grupos que já trabalhavam com imunizantesjogo paciência spidermRNA para outros patógenos (como o vírus sincicial respiratório) direcionaram os esforços para o novo coronavírus.
Em março daquele mesmo ano, os primeiros estudos clínicos dessas vacinas começaram a acontecer. Dez meses depois,jogo paciência spiderdezembro, a Food and Drug Administration (FDA), a agência regulatória dos EUA, aprovou os dois produtos com a tecnologia mRNA desenvolvidos e testados pelas farmacêuticas Moderna e Pfizer/BioNTech.
Pouco depois, eles também foram liberadosjogo paciência spideroutras partes do mundo — no Brasil, a Agência Nacionaljogo paciência spiderVigilância Sanitária (Anvisa) deu sinal verde para o uso do imunizante da Pfizerjogo paciência spider23jogo paciência spiderfevereirojogo paciência spider2021.
Essa foi a primeira vez na história que uma vacinajogo paciência spidermRNA — baseada nos trabalhos pioneirosjogo paciência spiderKarikó e Weissman — chegou ao braço das pessoas fora do ambiente das pesquisas científicas.
Ela se baseia naquele princípio explicado no início desta reportagem: cada dose do produto traz uma fitajogo paciência spiderRNA mensageiro (mRNA), que instrui as células do nosso próprio organismo a fabricar a proteína S (de Spike, ou espículajogo paciência spiderportuguês) presente na superfície do coronavírus.
A partir daí, o sistema imunológico reconhece esse material e gera uma resposta, capazjogo paciência spiderproteger caso o agente infecciosojogo paciência spiderverdade tente invadir o corpo.
O que vem por aí
Logo após a experiência com a covid-19, o próximo "passo natural" para o mRNA é que ele seja usado para desenvolver vacinas contra outras doenças infecciosas.
Inclusive, laboratórios já estão realizando testesjogo paciência spiderimunizantes contra todos os tiposjogo paciência spidercoronavírus, o influenza, o zika, o chikungunya, a dengue, a malária, o HIV, entre outros.
Segundo o ClinicalTrials.Gov, site que registra todos os testes clínicosjogo paciência spiderandamento nos Estados Unidos, existem cercajogo paciência spider800 estudos do tipojogo paciência spiderandamento que avaliam algum aspecto dessa plataforma tecnológica.
Rurik classificou esse campo da ciência como "empolgante".
"As vacinasjogo paciência spidermRNA usadas contra a covid-19 lançaram um enorme holofote na área. Com isso, vieram os investimentos privados e os programas governamentaisjogo paciência spiderincentivo", contextualizou.
O próprio trabalho do biomédico é um exemplo disso. Nos últimos anos, ele investiga se o mRNA pode servir como uma ferramenta para que as célulasjogo paciência spiderdefesa reconheçam e destruam fibroblastos "doentes" no coração.
Os fibroblastos são um tipojogo paciência spidercélula que forma a estrutura do músculo cardíaco. Quando essas unidades apresentam algum tipojogo paciência spiderdefeito, isso pode representar a origemjogo paciência spideruma doença crônica (como a insuficiência cardíaca) ou aguda (como o infarto).
"Treinar" as células imunológicas para identificar os fibroblastos defeituosos, portanto, pode se tornar, no futuro, um caminho para prevenir as condições que afetam o coração.
Ainda no mundo da cardiologia, outros grupos trabalham com o mRNA como uma formajogo paciência spiderbaixar o LDL, o colesterol ruim. Essa molécula está diretamente relacionada com uma sériejogo paciência spiderdesfechos perigosos, como o próprio infarto e o Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Isso porque algumas pessoas possuem um gene que faz elas expressarem demais uma proteína chamada PCSK9, o que leva o colesterol às alturas. Inibir essa fabricação excessiva por meio do mRNA poderia ser um caminho para lidarjogo paciência spiderforma definitiva com esse fatorjogo paciência spiderrisco para tantas doenças cardiovasculares.
Aos poucos, a tecnologia do mRNA também volta às suas origens: as pesquisas sobre o uso dessas vacinas contra tumores começaram a ganhar mais fôlego nos últimos meses.
Afinal, o câncer é uma fontejogo paciência spidermuitas mutações genéticas. Além disso, ele tem a característicajogo paciência spiderproduzir certas moléculas capazesjogo paciência spidersuprimir o sistema imunológico.
Em outras palavras, as células cancerosas são capazesjogo paciência spiderproduzir determinadas substâncias que bloqueiam a imunidade. Com isso, as unidadesjogo paciência spiderdefesa não reconhecem a ameaça — e o tumor cresce no corpo sem encontrar resistência.
Já existem atualmente tratamentos que tiram essa "venda" das unidadesjogo paciência spiderdefesa e permitem que o próprio sistema imunológico passe a atacar o câncer. Esse grupojogo paciência spiderfármacos é conhecido como imunoterapia, e está disponível contra o melanoma e outros tipos da doença.
Mas e se fosse possível aplicar uma vacinajogo paciência spidermRNA para que o organismo do paciente identificasse certas mutações tumorais mais comuns? Ou ainda criar um produto farmacêutico totalmente personalizado, baseado nas alterações genéticas que aparecemjogo paciência spidercada indivíduo com câncer?
Além disso, um dos grandes sonhos da oncologia sempre foi desenvolver uma espéciejogo paciência spider‘memória imunológica’ contra o câncer,jogo paciência spidermodo que o sistema imune saiba quando o tumor retornou ou está se espalhando para outros tecidos.
Todas essas possibilidades estão sendo testadas agora por gruposjogo paciência spiderpesquisas e farmacêuticas.
O passo concreto mais recente do mRNA contra o câncer foi anunciado pelos laboratórios Moderna e MSDjogo paciência spiderabril: uma vacina experimental contra o melanoma foi capazjogo paciência spiderdiminuir o riscojogo paciência spidermortejogo paciência spider44% quando associado à imunoterapia.
Vale ponderar, no entanto, que o produto ainda estájogo paciência spiderdesenvolvimento e precisa passar por novas etapasjogo paciência spiderestudo antesjogo paciência spiderchegar às clínicas e aos hospitais.
Por fim, Rurik apontou que o mRNA não é mais uma plataforma exclusiva para doenças infecciosas, cardíacas ou oncológicas.
"Também já vemos estudosjogo paciência spiderandamento para tratar lúpus e outras doenças autoimunes", exemplifica.
Mas, para que isso realmente aconteça, os cientistas precisarão ainda trabalhar bastante para provar a segurança e a eficáciajogo paciência spidertantas novidades.
O principal desafio será demonstrar que todas essas terapias não geram problemas no sistema imunológico ou prejudicam o funcionamentojogo paciência spiderórgãos vitais, como o fígado.
"Mas é inegável que há muita coisa acontecendo agora com o mRNA, e tenho certeza que ideias ‘malucas’, que imaginávamos impossíveis, virarão realidade nos próximos cinco anos", concluiu o biomédico.