Qual é para cada religião o momento do início da vida — e como cada uma lida com aborto :vbet güncel

bebê recém-nascido

Crédito, Getty Images

Em comum, a questão que geralmente baliza o debate é o momentovbet güncelque a "alma" é concedida ao novo ser.

Pule Matérias recomendadas e continue lendo
Matérias recomendadas
vbet güncel de :Temos os melhores relatórios de previsão, você está convidado a participar

Você está procurando maneiras vbet güncel obter uma promoção DraftKings? Não procure mais! Neste artigo, vamos passar os passos que você 👄 precisa tomar para colocar as mãos vbet güncel um promo RascunhoReis. Se é profissional experiente ou novo jogador este guia tem 👄 coberto-lhe a questão Vamos começar agora mesmo!!

Passo 1: Inscreva-se para uma conta DraftKings

ighting videogames. 3d vs:2DM Games : Pricees e

dinheiro apostas online

FIFA 22FIFA, IFAF-A - Fifa 222 – seleções.

UEFA

Fim do Matérias recomendadas

Mas as interpretações variam dentro do cristianismo e, claro, quando comparamos também com outras religiões importantes mas menos difundidas no Brasil contemporâneo.

A reportagem ouviu especialistas e traz, a seguir, os entendimentos da Igreja Católica Apostólica Romana,vbet günceligrejas cristãs protestantes e evangélicas, das religiosidades indígenas e dasvbet güncelmatriz africana, do espiritismo kardecista, do judaísmo e do islã.

A partir desse entendimento, cada credo costuma traçarvbet güncelrégua moral para assuntos como sexo para fins não reprodutivos, métodos contraceptivos, aborto e relações homoafetivas.

Igreja Católica

Pule A Raposa e continue lendo
A Raposa

O novo podcast investigativo da BBC News Brasil

Episódios

Fim do A Raposa

Ex-coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católicavbet güncelSão Paulo (PUC-SP) e editor do jornal O São Paulo, da Arquidiocesevbet güncelSão Paulo, o sociólogo e biólogo Francisco Borba Ribeiro Neto argumenta à BBC News Brasil que "no caso do catolicismo, o conceitovbet güncelorigem da vida evoluiu com o desenvolvimento dos conhecimento sobre biologia fetal".

"O cristianismo sempre condenou o aborto, mas na Idade Média se supunha que a alma não se incorporaria plenamente ao feto já na concepção. Com a evolução do conhecimento científico, a Igreja Católica passou a assumir que a alma é infundida no corpo já no momento da concepção”, defende ele.

Para o sociólogo, a questão parte do conhecimento científico. E, segundo ele, é por isso que a Igreja condena o aborto.

"Em primeiro lugar, acho importante fazer um a distinção para entendermos o que realmente estávbet günceldebate. Ninguém pode, hojevbet günceldia, duvidar do fatovbet güncelque uma nova vida se origina na concepção. Quando o óvulo e o espermatozoide se encontram, surge um novo código genético, que corresponde a um novo ser vivo. Este é um dado científico universalmente aceito. O debate real é se esse novo ser vivo, ainda desprovido das características próprias da condição humana, pode ser considerado uma pessoa humana portadoravbet günceldireitos equivalentes aosvbet günceluma pessoa já nascida", pontua.

"Esse caráter, pertencente constitutivamente à filosofia do direito, não interessa aos envolvidos no debate, por isso permanece camuflado", diz Ribeiro Neto.

"Aos que defendem o direitovbet güncelescolha [ou seja, o direito ao aborto], não interessa a constataçãovbet güncelque o feto já é um ser humano diferente, mesmo que seja apenas do pontovbet güncelvista biológico. Aos que defendem o direito à vida, não interessa destacar que pode existir uma diferença entre um novo ser vivo, no sentido biológico estrito) e uma pessoa dotadavbet günceldireitos, que é uma questão filosófica e social."

Como a Igreja entende que a alma é concedida por Deus já no momento da concepção, qualquer método abortivo é visto, nas palavras do sociólogo, como "um atentado contra o direito à vidavbet günceluma pessoa".

Mas há um senão. "Os métodos contraceptivos não são totalmente condenados pelo catolicismo. Ele [a Igreja] concorda com os chamados métodos naturais, que monitoram o ciclo reprodutivo da mulher e indicam que se mantenha relações sexuais nos diasvbet güncelque ela está infértil, para evitar a concepção, ou nos dias férteis, no caso dos casais que desejam ter filhos”, explica ele. É a chamada tabelinha.

Por outro lado, Ribeiro Neto ressalta que preservativos, dispositivo intrauterino (DIU) e a pílula são contraindicados. Assim como procedimentos definitivos, como a laqueadura e a vasectomia. "Porque não dariam espaço à livre açãovbet güncelDeus", afirma. "Todo ato sexual deve estar aberto à possibilidade da geraçãovbet günceluma nova vida."

"O sexo não reprodutivo é plenamente aprovado pela Igreja, que reconhece que a sexualidade tem um valor unitivo, isso é, reforça a união entre homem e mulher. Contudo, justamente por representar essa unidade entre ambos, deve estar aberto à reprodução, que é o auge do amor entre dois seres humanos: a criaçãovbet güncelum terceiro ser que é a fusãovbet güncelambos", salienta ele.

Isso implica numa questão correlata: a maneira como o catolicismo vê as uniões homoafetivas. A não aceitação desses casamentos, conforme explica Ribeiro Neto, é porque,vbet güncelúltima instância, eles "não podem, naturalmente, gerar um filho".

Igrejas protestantes e evangélicas

Professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, o teólogo, filósofo e historiador Gerson Leitevbet güncelMoraes lembra que, "de maneira geral, o cristianismo, seja o católico, seja o protestante ou evangélico, trabalha com a ideiavbet güncelque existe uma ordem controlada pelo criador, que comanda tudo".

"É preciso,vbet güncelalguma forma, respeitar esse doador da vida. Isso está na tradição cristã que foi inicialmente pensada pela confissão católica e também na que teve sequência com os protestantes e evangélicos", afirma.

Ele lembra que as raízes desse entendimento estão na filosofia do teólogo Tomásvbet güncelAquino (1224-1274), que definia como "pessoa" a "substância capazvbet güncelpensar".

"Assim, a pessoa é um ser racional, mas não que tenha recebido essa racionalidadevbet güncelmaneira natural, no sentidovbet güncelherdar uma carga genética dos pais. O dom da vida, a racionalidade, ela é algo espiritual que foi infundida, associada a cada um por meiovbet güncelum ato criador. Por isso que a vida acaba sendo um presentevbet güncelDeus", contextualiza Moraes.

"A definição se torna bastante sofisticada porque coloca Deus na parada."

"Na tradição protestante é muito comum você escutar que os seres humanos criados são a joia da criaçãovbet güncelDeus, por isso temos o direitovbet günceladministrar o cosmos, porque somos sujeitos racionais", completa.

Assim, para os cristãos não católicos a ideia é a mesma: a vida começa na concepção. "Porque,vbet güncelalgum momento, Deus infunde a alma" diz o teólogo.

Mas se os católicos costumam se apoiarvbet güncelcatataus filosóficos e teológicos construídosvbet güncelquase 2 mil anos, protestantes se fiam mais no que está na Bíblia por si só. E aí o principal fator a condenar o aborto é um trecho do Antigo Testamento que aparece no Salmo 139.

Ali diz que "os teus olhos [de Deus] viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quaisvbet güncelcontinuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia".

"Segundo esse texto, Deus conhecia a pessoa antes mesmovbet güncelela existir", interpreta. "E Deus conhecida o plano eterno. Já via, com seus olhos, a substância ainda informe. Nesse sentido, a partir daquele bolovbet güncelcélulas, da fecundação, já há uma vida, uma pessoa conhecida por Deus."

Por outro lado, as igrejas protestantes costumam ser mais abertas ao usovbet güncelmétodos contraceptivos.

"Há uma liberdade maior. Não há problema quanto ao sexo não reprodutivo desde que dentro do casamento, porque se entende que o homem foi dado à mulher e a mulher foi dada ao homem. O sexo deve acontecer porque ambos foram abençoados por Deus numa relação legítima e essas duas pessoas estão unidas para se reproduzirem, criarem filhos mas também para se alegrarem, sentirem prazer e viverem uma vidavbet güncelfidelidade sem nenhuma imposição ou restrição sexual", comenta.

No caso do aborto, Moraes explica que tradicionalmente os protestantes sempre condenaram a práticavbet güncelmodo indiscriminado mas respeitavam o direitovbet güncelescolhavbet güncelseus fiéis, sobretudovbet güncelcasosvbet güncelviolência contra a mulher, estupro ou mesmo quando a gestante corre riscovbet güncelvida ou o feto tem alguma má-formação. "A tradição sempre foi voltada ao pró-escolha", conta.

Isso mudou com a ascensãovbet güncelgrupos evangélicos fundamentalistas aliados a gruposvbet güncelextrema-direita, segundo explica o professor.

"Em uma mimetização do que vem ocorrendo nos Estados Unidos desde os anos 1960, vemos no Brasilvbet güncelhoje lideranças evangélicas promovendo manifestações atévbet güncelfrente a clínicas que praticam aborto", comenta.

Há variaçõesvbet günceldenominação para denominação.

"É preciso lembrar quevbet günceloutras igrejas as coisas podem funcionarvbet güncelforma diferente. Há igrejas pentecostais que são inclusivas, mas mesmo aí ainda prevalece algum moralismo. A igreja Cidadevbet güncelRefúgio, por exemplo, é uma igreja inclusiva, mas proíbe o sexo antes ou fora do casamento. A Igreja Universal, no início deste século, não se opunha ao aborto. Passou a proibir o aborto posteriormente. Essa igreja defende o planejamento familiar com o usovbet güncelmétodos contraceptivos", exemplifica o sociólogo Edin Sued Abumanssur, professor da PUC-SP, onde lidera o Grupovbet güncelEstudos do Protestantismo e Pentecostalismo.

Sobre a origem da vida, ele toma como exemplo duas igrejas evangélicas bastante disseminadas no Brasil, a Deus é Amor e a Assembleiavbet güncelDeus. "[Para ambas] a origem da vida está no momento da concepção", esclarece.

"Para as duas igrejas o casamento é mandamento divino e as relações sexuais devem acontecer apenas no contexto do casamento. Sexo antes do casamento é proibido e implica disciplina para os faltosos. Sexo com outro que não o marido ou a esposa é adultério e implicavbet güncelexclusão da igreja. O casamento é necessariamente monogâmico, heterossexual."

Há regras claras para o matrimônio. Na Deus é Amor, casamento só deve acontecer depois dos 16 anos para mulheres e 18 anos para os homens.

As mulheres entre 16 e 18 anos só podem casar com homensvbet güncelaté, no máximo, 28 anos. Se tiver entre 18 e 21 anos pode se casar com homensvbet güncelaté 36 anos. A partirvbet güncel21 anos pode se casar com homensvbet güncelqualquer idade. Há preceitos para quando é o casovbet güncelo homem ser mais novo que a mulher", diz Abumanssur.

"Ambas as igrejas só reconhecem a família heterossexual. Qualquer relação homoafetiva é vista como pecado e passívelvbet güncelexclusão da igreja. Para a Deus é Amor, métodos contraceptivos são proibidos a não ser por ordem médica ou quando o marido não for crente e exigir a operação para evitar filhos."

"Para ambas as igrejas o aborto é proibidovbet güncelqualquer circunstância, mesmo naqueles casos previstos na lei. Para as igrejas pentecostais que conheço o aborto é sempre proibido", esclarece.

Judaísmo

De acordo com o historiador, hebraísta e rabino Theo Hotz, apresentador do podcast Torá com Fritas, são diversas as opiniões no judaísmo sobre o momento do início da vida. De acordo com a Lei Judaica, a vida humana se inicia no momento do nascimento.

"Feto e bebê são diferenciados a partir do ato do nascimento. Enquanto ainda na fase uterina, o feto é considerado como vidavbet güncelpotencial, mas ainda parte da mãe, como se fosse um órgão dela. Tanto os antigos sábios do Talmud, quanto os legisladores da Lei Judaica entendem que, após a cabeça do bebê ter saído, ele é considerado um ser humano completo. Outras autoridades entendem que somente após a maior parte do bebê ter saído ele deve ser considerado como um ser humano completo", esclarece Hotz.

A base do entendimento é bíblica e remonta ao livro do Gênesis, parte das escrituras tanto do judaísmo quanto das denominações cristãs. Ali diz que "Deus então soprouvbet güncelsuas narinas o fôlego da vida, e ele se tornou um ser vivente".

"Assim, a respiração natural é vista como base para a determinaçãovbet güncelquando a vida começa e termina. Como dentro do útero, cercado pelo líquido amniótico, o feto é incapazvbet güncelrespirar, seu potencialvbet güncelvida só é realizado a partir do momentovbet güncelque tem contato com o ar e pode respirar por si só e naturalmente", explica o historiador.

Ele ressalta, contudo, que não há um consenso. A cabalá, ou seja, a mística judaica, tem o entendimentovbet güncelque a vida se inicia a partir da entrada no quarto mêsvbet güncelgestação. "Daqui, por exemplo, surge o costumevbet güncelsomente se anunciar uma gravidez após a compleiçãovbet günceltrês mesesvbet güncelgestação", conta.

"Há quem diga, porém, que tal costume se desenvolveu por puro empirismo, após a observação do fatovbet güncelque era muito comum se perder uma gravidez durante o primeiro trimestre."

Segundo o historiador e rabino, a visão judaica não condena o aborto. "Entendendo a respiração natural como a realização total do potencialvbet güncelvida humana, o judaísmo entende que a gravidez pode ser interrompida a qualquer momento antes do nascimento. Desse modo, o aborto não é visto como algo fundamentalmente proibido pela Lei Judaica", contextualiza.

"Contudo, é importante compreender que o judaísmo, embora não proíba o aborto, tampouco o incentiva. Autoridades legais e mestres da filosofia judaica entendem que o objetivo do feto é realizar o seu potencialvbet güncelvida, assim, a gravidez não deveria ser interrompida por qualquer motivo", ressalta ele.

Um dos motivos vistos como razoáveis para a prática é quando a gestante corre riscos. "Neste caso, entende-se a mãe como potencial já realizado versus o feto potencial ainda não realizado. Deste modo, a vida da mãe estaria acima do potencialvbet güncelvida fetal", afirma.

Outros casos aceitáveis são quando a viabilidade da vida do potencial é baixa, como no casovbet güncelfetos com malformações e outras anomalias. “[Nestas situações], o aborto pode ser recomendado, não incorrendovbet güncelqualquer culpa religiosa sobre os progenitores", diz Hotz.

O rabino explica que métodos contraceptivos são, "de maneira geral, não recomendados pelo judaísmo". "Mas as autoridades rabínicas são incentivadas a analisar caso a caso, podendo vir a autorizar seu uso ou recomendá-lo no caso, por exemplo,vbet günceluma família pobre, que não tenha condiçõesvbet güncelcriar um filho naquele momento da vida".

Neste caso o fundamento é o mesmo, ou seja, da precária viabilidade da vida cujo potencial venha a ser realizado.

"De todo modo, num caso assim, muitas vezes não se recomenda o método contraceptivo, mas sim, que se entregue a criança nascida para adoção", comenta.

Islã

O islã tem o entendimentovbet güncelque a vida começa 120 dias depois da concepção. Isto está presente no Corão, o livro sagrado da religião.

"Tem uma surata que fala da formação [do feto]. Primeiro, o coágulo, depois o pedaçovbet güncelcarne, os ossos", explica a antropóloga Francirosy Campos Barbosa, professora na Universidadevbet güncelSão Paulo (USP).

No texto, há o chamado período do esperma,vbet güncel40 dias, seguido pelavbet günceltransformaçãovbet güncelcoágulo, outros 40 dias, e então ao pedaçovbet güncelcarne, mais 40 dias.

"Então Deus manda um anjo até a criatura que está sendo gestada e assopra a vida. Esse anjo é ordenado a registrar para essa criança o sustento, as ações, quando vai morrer, se será uma pessoa bem-aventurada ou não… Esses pontos já se decidem ali, nesse momentovbet güncelque a criança recebe a vida", afirma Barbosa.

Essa crença implicavbet güncelduas consequências. A primeira é que o aborto, para o islã, é algo terminantemente proibido. Mas há o tal prazovbet güncel120 dias. "Se pensarmos claramente, não é ainda vida [para os que professam essa fé], então não teria determinados impedimentos", diz a antropóloga.

Contudo, mesmo assim, evita-se, conforme ressalta a professora. Porque não há um consenso entre os sábios da religião. "Há especialistas que dizem que se o aborto ocorre antes [dos quatro meses], não há problemas. Mas há quem discorda. O mais comum é aceitar nos casosvbet güncelque a mãe está correndo riscovbet güncelvida", explica.

Sobre métodos contraceptivos, Barbosa conta que dentro do islã não há problemas desde que não sejam permanentes. Ou seja: laqueadura e vasectomia não são aceitos, mas os outros métodos não são vistos como problemáticos. "Na época do profeta [Maomé ou Muhammad, como preferem seu seguidores], se fazia uma prática conhecida como coito interrompido. Que ele e seus companheiros já realizavam", diz Barbosa.

Espiritismo kardecista

Como se tratavbet günceluma doutrina reencarnacionista, a linha espírita kardecista parte da ideia "de que a alma é imortal e a gente tem várias existências, várias vidas", como explica a historiadora e socióloga Célia da Graça Arribas, professora na Universidade Federalvbet güncelJuizvbet güncelFora (UFJF) e autora do livro 'Afinal, Espiritismo é Religião?'.

"O princípio da vida, então, é pensado como uma espécievbet güncelevolução. Passamos por algumas existências, das plantas aos animais, até chegarmos aos seres humanos. Mas a ideia é que ninguém nunca regride", contextualiza. "O fundo da teoria espírita é a ideia da evolução."

A pesquisadora salienta que, embora o espiritismo seja praticadovbet güncelgeral por pessoasvbet güncelclasses sociais mais elevadas do que a que compõe a massavbet güncelevangélicos neopentecostais no Brasil, a intransigência à possibilidade do aborto é uma pauta que une esses dois grupos.

"Embora haja espíritas progressistas que pensam no aborto a partir das lentes da saúde pública, o que predomina é uma visão muito forte contra qualquer tipovbet güncelaborto. O pensamento hegemônico [dentro da doutrina] é conservador, então eles são completamente contrários à descriminalização do aborto", diz.

No entendimento deles, impedir o términovbet günceluma gestão é impedir a vindavbet güncelum espírito programado para reencarnar. "Alguém que tem objetivos, provas a cumprir na Terra. Ou seja, o aborto seria uma ação contrária às leis naturais e divinas. É um discurso alinhado com a perspectiva católica e evangélica, nesse sentido", argumenta a pesquisadora.

De modo geral, os espíritas kardecistas não se opõem aos métodos contraceptivos, desde que as relações sexuais sejam feitas com consentimento e responsabilidade. "A partir da ideiavbet günceluma parceria fixa e do amor", esclarece Arribas. A exceção é o DIU. "Porque como ele não impede a fecundação, mas sim a absorção do zigoto no colo do útero para o começo da gestação, para muitos espíritas ali já estava implementado o espírito reencarnante", diz.

Uma informação interessante a respeito é que um dos proponentes do estatuto do nascituro,vbet güncel2007, foi o então deputado federal Luiz Carlos Bassuma, que segue o espiritismo. "[Trata-sevbet günceluma proposta que] prevê que o feto tem direito à vida, à integridade física, a partir do momentovbet güncelque é concebido. Na prática, qualquer aborto seria proibido, inclusivevbet güncelcasosvbet güncelestupro", pontua a professora.

Povos originários

 Um homem indígena Dessana brinca com um bebê próximo ao Rio Negro na Reserva Tupe nos arredoresvbet güncelManaus, Amazonas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Um homem indígena Dessana brinca com um bebê próximo ao Rio Negro na Reserva Tupe nos arredoresvbet güncelManaus, Amazonas

Dentre os tantos povos indígenas brasileiros, são muito diversas as crenças sobre o momentovbet güncelque a vida se inicia. E, atualmente, esses entendimentos muitas vezes estão contaminados com preceitos cristãos, seja oriundosvbet güncelmissionários católicos, sejavbet güncelevangélicos.

Professor na Universidade Federal do Amapá (Unifap), o historiador e antropólogo Giovani José da Silva explica que essas posturas costumam variar conforme "as narrativas míticasvbet güncelcada povo".

"Há os que acreditam que a alma adentra o corpo no momento do nascimento e aqueles que acreditam que o espírito já esteja presente no momento da fecundação. Os que sofreram influência religiosa cristã costumam entender que um fetovbet güncelalgumas semanas já é um ser vivo", argumenta.

"E isso, claro, vai influenciá-los a aceitar ou não o aborto."

Ele cita, contudo, pesquisas realizadas na etnografia dos kadiwéus mbayá-guaikurú e os classifica como exemplosvbet günceluma população que via com naturalidade a prática do aborto. "Seus ancestrais muitas vezes abortavam e, no lugar dessa criança abortada, costumavam raptar uma criançavbet günceloutro grupo", comenta.

Ao longovbet güncelquase 10 anos, nos anos 2000, Silva participou da organizaçãovbet günceloficinasvbet günceleducação sexualvbet güncelcomunidades indígenas, principalmente visando a conter a propagaçãovbet güncelinfecções sexualmente transmissíveis. Ele constatou que diversos métodos contraceptivos e receitas abortivas, muitos deles ligados ao usovbet güncelplantas específicas, eram utilizados pelas mulheres sem nenhum problema ou tabu.

"Há, nos povos [indígenas] a ideia e o sentimentovbet güncelse fazer sexo para fins não reprodutivos,vbet günceldar prazer aos parceiros", comenta. "Evidentemente que a entradavbet güncelcenavbet güncelreligiões cristãs, sobretudo as evangélicas neopentecostais, com um discurso bastante moralista, provocou mudançasvbet güncelcomportamento."

Candomblé

De acordo com o sociólogo, antropólogo e babalorixá Rodney William Eugênio, autor de, entre outros livros, A Bênção aos Mais Velhos: Poder e Senioridade nos Terreirosvbet güncelCandomblé, não existe na religião africana nada que impeça a interrupção voluntáriavbet günceluma gravidez ou a decisãovbet güncelnão engravidar.

"Não há juízo moral no candomblé, sobretudo essa moral restritiva normalmente vinculada às religiões cristãs. Cada um exerce o direito e a responsabilidade sobre seu próprio corpo", salienta ele.

"Não há nenhum fundamento que condene o aborto, muito menos os métodos contraceptivos. Aliás, compreender o aborto dentrovbet güncelum contexto histórico nos ajuda a incluir a prática como uma condição diante do contextovbet güncelviolência do processovbet güncelescravidão e da vulnerabilidade social que seguiu no pós-abolição. Usar qualquer história sagrada dos orixás para criticar o aborto, alémvbet güncelleviano, seria uma grande hipocrisia. São as mulheres negras as maiores vítimasvbet güncelprocedimentos mal-sucedidos. Portanto, deve ser uma preocupação dos terreiros que abortos, quando necessários, possam ser feitos sem riscos e com a devida assistência."

No entendimento do candomblé a vidavbet güncelcada um começa antes mesmo do nascimento na Terra.

"Resumidamente,vbet güncelacordo com as histórias sagradas dos orixás, cada umvbet güncelnós escolhe no Orun, o mundo das divindades e ancestrais, um Ori, ou seja, cabeça, mente, consciência, para nascer no Aiyê, a Terra. Antes do nosso nascimento nosso Ori escolherá um Odu, o caminho, destino, e deve testemunhá-lo diantevbet güncelExu Onibodê Orun, o guardião da grande encruzilhada que separa o Orun do Aiyê, e Orunmilá, o senhor dos oráculos", narra.

"Dizemos tudo que vamos realizar: vitórias, desafios, conquistas, dificuldades, encontros, guerras e até o tempovbet güncelque vamos ficar na Terra. Quando atravessamos o portal, Exu nos faz esquecervbet günceltudo para que tenhamos direito ao arbítrio", prossegue.

"Sendo assim, o Orivbet güncelcada pessoa já determinou como serávbet güncelvida, seu tempo no Aiyê e como serávbet güncelmorte, inclusive no casovbet güncelmortes prematuras. Nós escolhemos a quem nosso destino vai se atrelar,vbet güncelqual família nascermos, quem serão nossos pais evbet güncelque forma morreremos."

Sobre os que têm esse nascimento interrompido, também há uma explicação. "No Orun há uma sociedade dos Abikus, que são os predestinados a não cumprir seu odu na Terra, nascendo mortos ou nem chegando a nascer", esclarece Eugênio.