As revelações da viúvapixbet basquetelíder do Estado Islâmico:pixbet basquete

Umm Hudaifa com um lenço na cabeça que cobre a maior parte do rosto
Legenda da foto, Umm Hudaifa, primeira esposapixbet basqueteAbu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico mortopixbet basquete2019, está agorapixbet basqueteuma prisão no Iraque
  • Author, Feras Kilani
  • Role, Da BBC Arabicpixbet basqueteBagdá

Em uma rara entrevista concedida na prisão, uma viúva do líder do grupo extremista autodenominado Estado Islâmico compartilhou relatos sobrepixbet basquetevida.

Umm Hudaifa era a primeira esposapixbet basqueteAbu Bakr al-Baghdadi, e estava casada com ele enquanto ele supervisionava o regime brutal do grupo sobre grandes partes da Síria e do Iraque.

Ela está agora detidapixbet basqueteuma prisão iraquiana, enquanto é investigada por crimes relacionados ao terrorismo.

No verãopixbet basquete2014, Umm Hudaifa estava morando com o maridopixbet basqueteRaqqa, então reduto do Estado Islâmico na Síria.

Como líder do grupo extremista e procurado pela polícia, Abu Bakr al-Baghdadi passava com frequência temporadaspixbet basqueteoutros lugares e,pixbet basqueteuma destas ocasiões, enviou um guarda até a casa da família para buscar dois filhos pequenos.

"Ele me disse que ia fazer uma viagem com eles para ensinar os meninos a nadar", conta Umm Hudaifa.

Havia uma televisão na casa que ela assistia escondido. "Eu costumava ligar quando ele não estavapixbet basquetecasa", diz ela, explicando que ele achava que não funcionava.

Ela afirma que estava isolada do mundo, e que ele não a deixava ver televisão ou usar qualquer outra tecnologia, como telefone celular, desde 2007.

Poucos dias depoispixbet basqueteo guarda ter levado as crianças, ela conta que ligou a televisão, e teve "uma grande surpresa".

Ela viu o marido discursando na Grande Mesquitapixbet basqueteal-Nuri, na cidadepixbet basqueteMossul, no norte do Iraque, se apresentando pela primeira vez como chefe do autoproclamado califado islâmico.

Em questãopixbet basquetesemanas, seus combatentes tomaram o controle da área.

Abu Bakr al-Baghdadipixbet basquetebarba longa e roupa preta discursando na Grande Mesquitapixbet basqueteal-Nuri,pixbet basqueteMossul,pixbet basquetejulhopixbet basquete2014

Crédito, AFP

Legenda da foto, Abu Bakr al-Baghdadi discursando na Grande Mesquitapixbet basqueteal-Nuri,pixbet basqueteMossul,pixbet basquetejulhopixbet basquete2014

Investigaçãopixbet basquetecrimes

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As imagenspixbet basqueteal-Baghdadi fazendopixbet basqueteprimeira aparição públicapixbet basqueteanos, com a barba longa, vestido com uma túnica preta e exigindo lealdade aos muçulmanos, foram vistaspixbet basquetetodo o mundo, e marcaram um momento chave para o Estado Islâmico, à medida que o grupo arrasava o Iraque e a Síria.

Umm Hudaifa diz que ficou chocada ao descobrir que seus filhos estavampixbet basqueteMossul com ele,pixbet basquetevezpixbet basqueteaprendendo a nadar no rio Eufrates.

Ela descreve esta cena da prisão lotadapixbet basqueteBagdá, capital iraquiana, onde está detida enquanto as autoridades iraquianas investigam seu papel no Estado Islâmico e os crimes do grupo.

Havia muito barulho dos presidiários, acusados ​​de vários crimes, incluindo usopixbet basquetedrogas e prostituição, que eram deslocados pela prisão, e das entregaspixbet basquetecomida que chegavampixbet basquetefora.

Encontramos um local tranquilo na biblioteca, e conversamos por quase duas horas.

Durante a nossa conversa, ela se apresentou como uma vítima que tentou escapar do marido, e negou estar envolvidapixbet basquetequalquer atividade brutal do Estado Islâmico.

Isto contrasta fortemente com a forma como ela é descritapixbet basqueteum processo judicial aberto por mulheres yazidi que foram sequestradas e estupradas por membros do grupo extremista — elas acusam Umm Hudaifapixbet basqueteconluio na práticapixbet basqueteescravizar sexualmente meninas e mulheres raptadas.

Durante a entrevista, ela não levanta a cabeça nem sequer uma vez. Está vestidapixbet basquetepreto, e revela apenas parte do rosto, ao redor do nariz.

Umm Hudaifa nasceupixbet basquete1976pixbet basqueteuma família iraquiana conservadora, e se casou com Ibrahim Awad al-Badri, que ficaria conhecido mais tarde pelo pseudônimopixbet basqueteAbu Bakr al-Baghdadi,pixbet basquete1999.

Imagem borradapixbet basqueteCCTVpixbet basqueteIbrahim Awad al-Badri, mais tarde conhecido como al-Baghdadi, gravadapixbet basquete2003

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Imagens inéditaspixbet basquetecâmeraspixbet basquetesegurança, fornecidas pela inteligência iraquiana, mostram Ibrahim Awad al-Badri, que mais tarde ficaria conhecido como al-Baghdadi,pixbet basquete2003

Ele havia terminado os estudos da sharia (lei islâmica) na Universidadepixbet basqueteBagdá — e ela diz que, naquela época, ele era "religioso, mas não extremista… conservador, maspixbet basquetecabeça aberta".

Até que,pixbet basquete2004, um ano após a invasão do Iraque liderada pelos EUA, as forças americanas prenderam al-Baghdadi.

Ele ficou detido por cercapixbet basqueteum ano no centropixbet basquetedetençãopixbet basqueteBucca, no sul do país, junto a vários outros homens que se tornariam figuras importantes no Estado Islâmico epixbet basqueteoutros grupos jihadistas.

Nos anos apóspixbet basquetelibertação, ela afirma que ele mudou. "Ele ficoupixbet basquetepavio curto, e dado a explosõespixbet basqueteraiva."

Outras pessoas que conheceram al-Baghdadi dizem que ele estava envolvido com a Al-Qaeda antes da passagem por Bucca — mas, para Umm Hudaifa, a detenção foi um divisorpixbet basqueteáguas que o tornou mais radical.

"Ele começou a sofrerpixbet basqueteproblemas psicológicos", diz ela. E quando perguntou os motivos, ele respondeu que havia sido "exposto a algo que você não consegue entender".

Ela acredita que, embora ele não tenha dito isso explicitamente, "durantepixbet basquetedetenção, ele foi submetido a tortura sexual".

Imagens da prisão iraquianapixbet basqueteAbu Ghraib, também administrada pelos EUA, que vieram à tona naquele ano, mostravam prisioneiros forçados a simular atos sexuais e a adotar poses humilhantes.

Apresentamospixbet basqueteacusação ao Departamentopixbet basqueteDefesa dos EUA, o Pentágono, mas não recebemos resposta.

Camp Bucca, cercado por arame farpado, outubropixbet basquete2004

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Prisão militarpixbet basqueteBucca, administrada pelos EUA, a 500 km a sudestepixbet basqueteBagdá,pixbet basqueteoutubropixbet basquete2004

'Você se perdeu'

Ela diz que começou a se perguntar se ele pertencia a um grupo radical. "Eu revistava a roupa dele quando ele voltava para casa, quando estava tomando banho ou quando ia dormir."

"Examinava até o corpo delepixbet basquetebuscapixbet basquetehematomas ou ferimentos… Estava perplexa", diz ela, mas não encontrou nada.

"Eu disse a ele naquela época: 'Você se perdeu'… e ele teve um ataquepixbet basqueteraiva."

Ela conta que eles mudavampixbet basquetecasa com frequência, tinham identidades falsas, e que seu marido se casou com uma segunda esposa.

Umm Hudaifa diz que pediu o divórcio, mas não concordou com a condição delepixbet basqueteque ela teria que abrir mão dos filhos, então continuou casada.

À medida que o Iraque mergulhavapixbet basqueteuma guerra sectária sangrenta que duroupixbet basquete2006 a 2008, ela já não tinha dúvidapixbet basqueteque o marido estava envolvido com grupos jihadistas sunitas.

Em 2010, ele se tornou o líder do Estado Islâmico do Iraque — formadopixbet basquete2006, este grupo guarda-chuva abrigava organizações jihadistas iraquianas.

"Nós nos mudamos para a zona ruralpixbet basqueteIdlib, na Síria,pixbet basquetejaneiropixbet basquete2012, e aí ficou absolutamente claro para mim que ele era o emir [líder]", afirma Umm Hudaifa.

O Estado Islâmico do Iraque foi um dos grupos que mais tarde uniu forças para formar o Estado Islâmico mais amplo que autoproclamou um califado — um Estado Islâmico governadopixbet basqueteacordo com a sharia, por alguém considerado representantepixbet basqueteMaomé na Terra — dois anos depois.

Naquela época, ela conta que ele passou a usar vestimenta tradicional afegã, deixou crescer a barba e carregava uma arma.

À medida que a situaçãopixbet basquetesegurança se deteriorava no noroeste da Síria durante a guerra civil do país, eles se mudaram para a cidadepixbet basqueteRaqqa, a leste, que mais tarde seria considerada a "capital do califado" do Estado Islâmico. Era ali que ela estava morando quando viu o marido na televisão.

A brutalidade dos grupos que se uniram para formar o Estado Islâmico já era bem conhecida, maspixbet basquete2014 e 2015 as atrocidades se tornaram mais abrangentes e mais terríveis.

Uma equipepixbet basqueteinvestigação da ONU informou ter encontrado evidênciaspixbet basqueteque o Estado Islâmico cometeu genocídio contra a minoria yazidi do Iraque, e que o grupo havia cometido crimes contra a humanidade, incluindo homicídio, tortura, sequestro e escravização.

O grupo extremista transmitiu suas atrocidades nas redes sociais, incluindo a decapitaçãopixbet basquetereféns e a mortepixbet basqueteum piloto jordaniano queimado vivo.

Em outro incidente notório, massacrou cercapixbet basquete1,7 mil soldados iraquianos, predominantemente xiitas, enquanto eles voltavam da base militarpixbet basqueteSpeicher, ao nortepixbet basqueteBagdá, para suas cidadespixbet basqueteorigem.

Algumas mulheres que foram viver com o Estado Islâmico agora dizem que não sabiam no que estavam se metendo, então pressionei Umm Hudaifa sobre seu pontopixbet basquetevista na época — ela diz que, mesmo naquela época, não conseguia ver as fotos, descrevendo as atrocidades como um "choque enorme, desumano", e acrescentando que "derramar sangue injustamente é uma coisa horrível, e nesse sentido ultrapassava os limites da humanidade".

Ela conta que enfrentou o marido por ter "o sangue daquelas pessoas inocentes" nas mãos, e disse a ele que "de acordo com a lei islâmica, havia outras coisas que poderiam ter sido feitas, como guiá-las ao arrependimento".

Umm Hudaifa conta que o marido costumava se comunicar com os líderes do Estado Islâmico pelo laptop.

Ele guardava o computador trancadopixbet basqueteuma maleta. "Tentei entrar para descobrir o que estava acontecendo", diz ela. "Mas era analfabeta tecnológica, e sempre me pedia uma senha."

Um membro armado do Estado Islâmico caminhando pelas ruaspixbet basqueteRaqqa,pixbet basquetejunhopixbet basquete2104

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Um membro armado do Estado Islâmico caminhando pelas ruaspixbet basqueteRaqqa,pixbet basquetejunhopixbet basquete2104

Ela afirma que tentou fugir, mas homens armadospixbet basqueteum postopixbet basquetecontrole se recusaram a deixá-la passar, e a mandarampixbet basquetevolta para casa.

Sobre os combates, ela diz que, até onde sabe, seu marido "não participoupixbet basquetenenhuma luta ou batalha", acrescentando que ele estavapixbet basqueteRaqqa quando o Estado Islâmico assumiu o controlepixbet basqueteMossul — ele viajou na sequência para fazer o discurso.

Logo após este discurso, al-Baghdadi casou a filhapixbet basquete12 anos, Umaima, com um amigo, Mansour, que foi encarregadopixbet basquetecuidar dos assuntos da família. Umm Hudaifa diz que tentou evitar, mas foi ignorada.

Uma fonte da segurança iraquiana informou que Umaima já havido sido casada uma vez, aos oito anos, com um porta-voz sírio do Estado Islâmico. Mas, segundo esta fonte, o primeiro casamento foi arranjado para que o homem pudesse entrar na casa quando al-Baghdadi estivesse fora, e o relacionamento não era sexual.

Em agostopixbet basquete2014, Umm Hudaifa deu à luz outra filha, Nasiba, que tinha um problema cardíaco congênito.

Foi na mesma épocapixbet basqueteque Mansour levou nove meninas e mulheres da minoria yazidi para a casa dela. Suas idades variavampixbet basquetenove a aproximadamente 30 anos.

Eram apenas algumas das milharespixbet basquetemulheres e meninas yazidi escravizadas pelo Estado Islâmico — outras milhares foram mortas.

Umm Hudaifa diz que ficou chocada e "sentiu vergonha".

Hamid sentadopixbet basqueteuma cadeira
Legenda da foto, A filha e a sobrinhapixbet basqueteHamid estavam entre as meninas yazidi levadas para a casapixbet basqueteUmm Hudaifa

Havia duas meninas no grupo, Samar e Zena (nomes fictícios). Umm Hudaifa alega que elas só ficaram na casa delapixbet basqueteRaqqa por alguns dias antespixbet basqueteserem transferidas.

Mais tarde, no entanto, a família se mudou para Mossul, e Samar reapareceu, permanecendo com eles por cercapixbet basquetedois meses.

Localizei o paipixbet basqueteSamar, Hamid, que se lembrou com lágrimas nos olhos do momentopixbet basqueteque ela foi raptada.

Ele disse que tinha duas esposas, e que elas, assim com seus 26 filhos, dois irmãos e suas famílias, foram todos sequestrados na cidadepixbet basqueteKhansour,pixbet basqueteSinjar. Ele escapou para as montanhas da região.

Seis dos seus filhos, incluindo Samar, ainda estão desaparecidos. Alguns retornaram após o pagamentopixbet basqueteresgate, e outros voltaram para casa depois que as áreaspixbet basqueteque estavam detidos foram libertadas.

A outra menina, Zena, épixbet basquetesobrinha, e acredita-se que esteja sendo mantida no norte da Síria. A irmãpixbet basqueteZena, Soad, não conheceu Umm Hudaifa, mas foi escravizada, estuprada e vendida sete vezes.

Hamid e Soad entraram com uma ação civil contra Umm Hudaifa por conluio no sequestro e escravizaçãopixbet basquetemeninas yazidi. Eles não acreditam que ela era uma vítima indefesa — e pedem a penapixbet basquetemorte.

"Ela foi responsável por tudo. Ela fez as seleções — esta aqui vai servir a ela, aquela vai servir ao marido... e minha irmã era uma dessas meninas", diz Soad. Ela baseou este relato nos testemunhospixbet basqueteoutras vítimas que voltaram para casa.

"Ela é a esposa do criminoso Abu Bakr al-Baghdadi, e é uma criminosa como ele."

Soad sentadapixbet basqueteuma cadeira
Legenda da foto, Soad está aguardando a data da audiência da ação civil contra Umm Hudaifa

Colocamos para Umm Hudaifa ouvir a gravação da nossa entrevista com Soad. Na sequência, ela diz: "Não nego que meu marido era um criminoso", mas acrescenta que "lamenta muito pelo que aconteceu com elas", e nega as acusações dirigidas a ela .

Umm Hudaifa conta que pouco tempo depois,pixbet basquetejaneiropixbet basquete2015, conheceu brevemente Kayla Mueller, a agente humanitária americana sequestrada que foi mantida refém durante 18 meses e morreupixbet basquetecativeiro.

As circunstânciaspixbet basquetetorno da mortepixbet basqueteKayla ainda não são conhecidas — na época, o Estado Islâmico alegou que ela tinha sido morta por um ataque aéreo jordaniano, mas os EUA sempre contestaram esta informação, e uma fontepixbet basquetesegurança iraquiana nos disse agora que ela foi morta pelo grupo extremista.

Em 2019, as forças dos EUA invadiram o local onde al-Baghdadi estava escondido com alguns membros dapixbet basquetefamília no noroeste da Síria.

Baghdadi detonou um colete com explosivos quando foi encurraladopixbet basqueteum túnel, matando a si mesmo e duas crianças, enquanto duaspixbet basquetesuas quatro esposas foram mortaspixbet basqueteuma trocapixbet basquetetiros.

Mas Umm Hudaifa não estava lá — ela vivia com um nome falso na Turquia, onde havia sido presapixbet basquete2018. Ela foi enviadapixbet basquetevolta ao Iraquepixbet basquetefevereiro deste ano, onde está sendo mantida na prisão enquanto as autoridades investigam seu papel no Estado Islâmico.

Sua filha mais velha, Umaima, está na prisão com ela, enquanto Fatima, que tem cercapixbet basquete12 anos, estápixbet basqueteum centropixbet basquetedetenção juvenil. Um dos seus filhos foi mortopixbet basqueteum ataque aéreo russo na Síria, pertopixbet basqueteHoms, outro morreu com o pai no túnel, e o filho mais novo está num orfanato.

Quando terminamospixbet basqueteconversar, ela levanta a cabeça, e eu vejo brevemente seu rosto por inteiro, maspixbet basqueteexpressão não revela nada.

Enquanto o agentepixbet basqueteinteligência a leva embora, ela implora por mais informações sobre os filhos mais novos. E agora,pixbet basquetevolta àpixbet basquetecela, ela precisa esperar para saber se vai enfrentar acusações criminais.