O peso sobre a 'geração sanduíche', que cuida ao mesmo tempobet365 dk casinopais idosos, filhos e netos:bet365 dk casino
Mudanças sociais demográficas deixam mais pessoas 'comprimidas' pelo cuidado multigeracional - com crianças e idosos ao mesmo tempo
Daiane não está sozinha no desafiobet365 dk casinocuidar simultaneamentebet365 dk casinoduas gerações: mudanças demográficas e sociaisbet365 dk casinocurso no mundo inteiro tornam cada vez mais comum que famílias,bet365 dk casinoespecial mulheres, sejam “prensadas”, ao mesmo tempo, pelas demandas tantobet365 dk casinopais idosos que necessitambet365 dk casinocuidado quantobet365 dk casinofilhos — ou mesmo netos — que também requerem atenção constante e sustento financeiro.
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Fim do Matérias recomendadas
O nome dado a isso, internacionalmente, é obet365 dk casino“geração sanduíche” — que ganha contornos ainda mais complexos no Brasil (veja mais detalhes abaixo na reportagem).
Nos Estados Unidos, por exemplo, uma pesquisa do centro Pew estimou que quase umbet365 dk casinocada quatro adultos americanos potencialmente se encaixa nessa definição — ou seja, tem responsabilidades tanto com pais idosos com maisbet365 dk casino65 anos quanto com filhos menoresbet365 dk casinoidade (ou maioresbet365 dk casino18 anos, mas ainda financeiramente dependentes).
Crédito, Arquivo pessoal
Daiane cuida da mãe, Maria Joana, e do filhobet365 dk casino7 anos: 'Quando você vai ganhar um bebê, você quer que abet365 dk casinomãe esteja ao seu lado. Mas comigo o que aconteceu é que eu virei órfãbet365 dk casinomãe e passei a ter uma filha a mais'
A faixa etária mais propensa a ser “ensanduichada” é a dos 40 anos: mais da metade (54%) dos americanos nessa idade tem pais e filhos que possivelmente demandam cuidados ou ajuda financeira.
Não há estatísticas precisas sobre o fenômeno no Brasil, segundo especialistas consultados pela reportagem. Dados da Pesquisa Nacional por Amostrasbet365 dk casinoDomicílio Contínua (Pnad Contínua) do IBGEbet365 dk casino2019 apontam que 54,1 milhõesbet365 dk casinobrasileiros com 14 anos ou mais cuidavambet365 dk casinooutros moradores dabet365 dk casinocasa oubet365 dk casinooutros parentes — mas não se sabe ao certo quantos cuidambet365 dk casinoduas gerações ao mesmo tempo.
A despeito disso, a expectativa ébet365 dk casinoque o fenômeno da “geração sanduíche” se torne mais comumbet365 dk casinoum futuro próximo, como explicam as pesquisadoras brasileiras Simone Wajnman e Jordana Cristina Jesusbet365 dk casinoum estudo sobre o tema no Brasil.
Há uma combinaçãobet365 dk casinomotivos por trás desse fenômeno global: como as pessoas estão tendo filhos mais tarde, e seus pais estão vivendo mais, muitas se veem lidando com os cuidados das duas gerações.
Ao mesmo tempo, as famílias ficaram menores — e há menos pessoas com as quais dividir essas tarefas.
Outro fator importante, segundo as pesquisadoras brasileiras, é que uma parcela significativa dos jovens têm demorado mais para obterbet365 dk casinoindependência financeira, adiando a saída da casa dos pais.
“Acredita-se que eles tenham passado cada vez mais tempo na condiçãobet365 dk casinodependentes, principalmente quando comparados à geraçãobet365 dk casinoseus próprios pais”, apontam Wajnman e Jesus.
“O cenário gerado por essas mudanças ébet365 dk casinouma parcela cada vez maiorbet365 dk casinoadultos comprimidos simultaneamente por demandasbet365 dk casinoseus filhos ebet365 dk casinoseus pais, (...) sendo que as mulheres são as mais propensas a ocupar esse papel.”
As estatísticas comprovam essa propensão: segundo o IBGE, as mulheres dedicam,bet365 dk casinomédia, 10,4 horas por semana a mais do que os homens às tarefas domésticas e aos cuidados não remunerados com pessoas.
É o casobet365 dk casinoDaiane, que desde a morte do pai cuida sozinhabet365 dk casinodona Maria Joana. Nem o marido, nem os irmãos dela participam da rotinabet365 dk casinocuidados, diz ela.
“Aprendi a dar banho nela e faço tudo o que está ao meu alcance. Quando ela ainda falava, até me chamavabet365 dk casinomãe. (...) Eu acho que Deus me deu isso para eu aprender o que é o amor verdadeiro por alguém — porque é uma experiênciabet365 dk casinoamor.”
Mas o acúmulobet365 dk casinofunções com o filho, com a mãe e com os afazeres domésticos tem cobrado um preço alto da saúde mentalbet365 dk casinoDaiane. Ela conta que já enfrentou períodosbet365 dk casinodepressão profunda.
“Dedico minha vida toda à minha mãe — não viajo, não saio. (...) E as pessoas me cobram que eu seja mais presente para o meu filho. Não tenho tempo para mim, mas tenho que ter tempo para a casa, para as roupas, para eles.”
Avós 'ensanduichadas'
Crédito, Getty Images
No Brasil, muitas avós carregam responsabilidadebet365 dk casinocuidar ao mesmo tempobet365 dk casinonetos e dos próprios pais
Mas se histórias como abet365 dk casinoDaiane são exemplos clássicos da geração sanduíche no mundo, elas provavelmente ainda não representam um exemplo tipicamente brasileiro, diz Simone Wajnman, que é professora da UFMG.
No país, assim como no restante da América Latina, o fenômeno tem uma camada adicionalbet365 dk casinocomplexidade: segundo os dados levantados pela pesquisadora, a maior parte das mulheres “ensanduichadas” atualmente no Brasil não são apenas mães, mas também avós.
A razão principal por trás disso é que, embora cada vez mais brasileiras estejam esperando mais para ter filhos, a idade médiabet365 dk casinoque elas se tornam mães — 27,8 anos — ainda é uma das menores do mundo.
Analisando os dados do Censobet365 dk casino2010, Wajnman identificou que, quando essa mulher chega aos 55 anos, ela terábet365 dk casinomédia dois netos, nascidosbet365 dk casinofilhos que têm por voltabet365 dk casino20 a 30 anos.
“E ela também tem alta probabilidadebet365 dk casinoter mãe e pai vivos ebet365 dk casinoidade demandante”, explica Wajnman à BBC News Brasil.
Na prática, portanto, muitas dessas avós acabam comprimidas pelas demandasbet365 dk casinotrês gerações diferentesbet365 dk casinodependentes — e muitas vezes participam intensamente da vida e dos cuidadosbet365 dk casinotodas elas.
“É com certeza algo que afeta muito mais as mulheres”, prossegue Wajnman. “Estou falandobet365 dk casinoavós que têm muito trabalho com seus netos e ao mesmo tempo têm uma mãe ou pai demandante.”
E conciliam isso também com o sustento da família.
A paulista Raquel Soares Alexandre, 58 anos, diz que está há três anos sem “vida própria” — desde que seu pai teve um AVC (acidente vascular cerebral) e perdeu os movimentos do lado direito do corpo.
“Ele não anda e não fala, então dependebet365 dk casinomim para tomar remédio, ir nas consultas médicas, tudo”, diz ela à reportagem.
Raquel também cria as duas netas adolescentes (de 13 e 17 anos) e trabalhabet365 dk casinotempo integral como agentebet365 dk casinoapoio na Fundação Casa, na cidadebet365 dk casinoSão Paulo.
“Meu pai fica com uma das minhas netas pela manhã e com a outra à tarde. Quando eu chego do trabalho, ainda tenho que cuidar da alimentação. Vou dormir às 23h. E no meus diasbet365 dk casinofolga, tenho que cuidar da casa, lavar as roupas”, ela desabafa.
“Então 'puxado' é pouco. Eu choro muito, me desespero, mas daí você olha para o lado e vê pessoasbet365 dk casinosituação ainda pior e seguebet365 dk casinofrente. (...) Antesbet365 dk casinoo meu pai ficar doente, eu conseguia tirar férias na praia. Hoje, se saio por poucos dias já é um transtorno, porque preciso pagar alguém para cuidar dele e não consigo me desligar.”
O peso do cuidado
Crédito, Getty Images
O cuidado no Brasil é um trabalho 'precarizado e pesado', diz assistente social
É importante destacar que a convivência multigeracional também pode trazer ganhos, desde aproximar a família e até permitir que mães consigam se manter no mercado enquanto as avós ajudam com as crianças.
Mas a pressão emocional e econômica sobre esse grupo demográfico é grande, e tende a continuar crescendo.
Uma pesquisa recente da Universidadebet365 dk casinoMichigan, nos EUA, publicada no Journal of the American Geriatrics Society aponta que, entre maisbet365 dk casinomil entrevistados da “geração sanduíche” nos EUA, 36% deles passavam por dificuldades financeiras — o dobro do índice reportado entre pessoas que cuidavam apenasbet365 dk casinoum pai idoso, por exemplo.
Também chamou a atenção o alto índice (44%)bet365 dk casinodificuldades emocionais entre os ensanduichados.
“Formuladoresbet365 dk casinopolíticas públicas e empregadores deverão prestar atenção especial aos indivíduos nesse ‘trilema’bet365 dk casinocuidarbet365 dk casinoduas gerações e, ao mesmo tempo, continuar sendo parte da forçabet365 dk casinotrabalho”, escreveu Donovan Maust, um dos autores do estudo.
A Associação Americanabet365 dk casinoPsicologia (APA) afirma que “ser cuidador multigeracional tem demonstrado impacto negativo na saúde e no comportamento, ao reduzir os níveisbet365 dk casinoexercício (dos cuidadores), aumentarbet365 dk casinofrequênciabet365 dk casinoconsumobet365 dk casinocigarros e elevar seu riscobet365 dk casinodepressão”.
“Cuidar dos netos é um trabalho extra para avós que muitas vezes também são cuidadoras dos seus maridos. Estamos falandobet365 dk casinomulheres que muitas vezes não puderam escolher”, diz à BBC News Brasil a assistente social Marilia Berzins, do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (Olhe) no Brasil.
Berzins diz que chegou a promover cursos e rodasbet365 dk casinoconversa para ajudar as cuidadoras multigeracionais, mas elas simplesmente não tinham tempo livre para comparecer. Sem apoio, acabam aprendendo a cuidarbet365 dk casinoidosos na prática, por conta própria.
“É um trabalho precarizado e pesado. Hoje, a principal provedorabet365 dk casinocuidados é a própria família”, prossegue Berzins.
Ela defende que políticas públicas, como centrosbet365 dk casinocuidados diurnos ou noturnos para idosos e a formalização da profissãobet365 dk casinocuidador, poderiam ajudar a aliviar a carga emocional, social e financeira sobre esses grupos.
“A pergunta é: quem cuidabet365 dk casinoquem cuida? Por isso, precisamos que o cuidado passe a ser uma política do Estado, e não só da família.”
