Poder, dinheiro e medo: como Maduro mantém apoioestrela bet aplicativomilitares na Venezuela:estrela bet aplicativo

Passadas maisestrela bet aplicativo96 horas do encerramento da eleição, que ocorreu no domingo (28/7), as atas com os registros dos votos ainda não foram apresentadas. O site do CNE segue fora do ar, e o governo diz que investigará um suposto “ataque hacker” ao sistema eleitoral.

Neste contexto,estrela bet aplicativoque os holofotes internacionais se voltam para o país sul-americano com dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral e contestação do resultado apresentado, a mensagemestrela bet aplicativoLópez marca a posição dos militares, leais ao regime — que dá a Maduro um importante respaldoestrela bet aplicativoum momentoestrela bet aplicativoqueestrela bet aplicativoreeleição e seu governo são duramente questionados no país e no exterior.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam, basicamente, três pilares que sustentam essa fidelidade dos militares ao governo: poder, ocupando cargos importantes e uma política robustaestrela bet aplicativoascensão dentro dos quartéis; dinheiro, controlando setores importantes do país, comoestrela bet aplicativopetróleo e minério; e medo, já que são alvosestrela bet aplicativorechaço e sançõesestrela bet aplicativocasoestrela bet aplicativooposição ao regime.

O papel dos militares no Chavismo

Os militares ganharam mais força e poder ainda durante o governoestrela bet aplicativoHugo Chávez, entre 1999 e 2013.

Já no primeiro anoestrela bet aplicativogoverno, Chávez promulgou uma Constituição que garantia, dentre outras coisas, o direito ao voto e à disputaestrela bet aplicativocargos eletivos aos militares.

“Naquele momento, eles passaram a ter força política ativa, com intervenção direta, controlando postos-chave do Estado, alémestrela bet aplicativoempresasestrela bet aplicativosetores importantes como o minério e o petróleo”, explica Rafael Villa, professor venezuelanoestrela bet aplicativoCiências Políticas e Relações Internacionais da Universidadeestrela bet aplicativoSão Paulo (USP).

Adriana Marques, professoraestrela bet aplicativoRelações Internacionais e coordenadora do Laboratórioestrela bet aplicativoEstudosestrela bet aplicativoSegurança e Defesa da Universidade Federal do Rioestrela bet aplicativoJaneiro (UFRJ), ressalta que “toda a trajetória dos militares na Venezuela está muito vinculada ao chavismo”.

No entanto,estrela bet aplicativo2002, a tentativaestrela bet aplicativogolpe sofrida por Chávez mostrou que era preciso dar mais poder às Forças Armadas, segundo analistas ouvidos pela BBC News Brasil.

A tentativaestrela bet aplicativodestituição, que durou dois dias, partiu tambémestrela bet aplicativouma ala militar, descontente com o autoritarismo exercido pelo presidente.

“Chávez conseguiu sobreviver porque,estrela bet aplicativoum lado, fez uma depuração nas Forças Armadas, e, por outro, incorporou os militaresestrela bet aplicativofunções políticas e sociais, diz Villa.

“As principais estatais foram para as mãos dos militares, como, por exemplo, a [petrolífera] PDVSA, que está sob controle militar desde 2004. É uma formaestrela bet aplicativocooptação muito eficiente.”

Quando Maduro assumiu a Presidência, logo após a morteestrela bet aplicativoChávez,estrela bet aplicativo2013, ele deu continuidade a essa políticaestrela bet aplicativoparceria com os militares.

Nomeou generaisestrela bet aplicativocargosestrela bet aplicativoconfiança e manteve um sistemaestrela bet aplicativopromoção dentro das Forças Armadas como formaestrela bet aplicativogarantir o apoio dentre líderes militares.

“A Venezuela tem hoje a maior quantidadeestrela bet aplicativogenerais do mundo”, diz Villa.

De acordo com o especialista, são cercaestrela bet aplicativo1,3 mil generais, dentroestrela bet aplicativoum contingente entre 95 mil a 150 mil oficiais, segundo o ministério da Defesa do país.

“Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, é algo como 800 generais. No Brasil, são cercaestrela bet aplicativo650. Isso mostra o uso da ascensão como formaestrela bet aplicativobarganha.”

O reconhecimento também os levou a ocupar o alto escalão do governo. Um levantamento feito pela BBC News Brasil mostra que cercaestrela bet aplicativoum terço dos 34 estrela bet aplicativo ministrosestrela bet aplicativoMaduro hoje são militares.

Eles ocupam cargos estratégicos, como o Ministério do Petróleo e o Despacho da Presidência, além da Defesa.

O general López é ministroestrela bet aplicativoMaduro há uma década. Masestrela bet aplicativofidelidade ao regime vemestrela bet aplicativoantes.

Ainda coronel, permaneceu fiel a Chávez na tentativaestrela bet aplicativogolpeestrela bet aplicativo2002. Depois disso, tornou-se chefe da Defesa e, depois, comandante das Forças Armadas até ser nomeado ministro por Maduro,estrela bet aplicativo2014.

Militares sob Maduro

“Maduro é a face visívelestrela bet aplicativoum regime que é essencialmente militar, mas fala-se pouco dos militares no sentidoestrela bet aplicativoque eles não são cobrados [pela população]”, diz Oliver Stuenkel, analista político e professorestrela bet aplicativorelações internacionais na Fundação Getúlio Vargas (FGV), que já viveu na Venezuela.

“De certa forma, Maduro é o para-raiosestrela bet aplicativoum regime militar. E, ao mesmo tempo, os militares estão faturando muito.”

Javier Corrales, cientista político especialistaestrela bet aplicativoAmérica Latina e Caribe da Universidadeestrela bet aplicativoAmherst, nos Estados Unidos, acrescenta que, geralmente, os militares acabam sendo poupados da atuaçãoestrela bet aplicativorepressões a manifestações populares.

“E isso faz com que as Forças Armadas não sintam que têm tanto sangue nas mãos”, diz Corrales, autorestrela bet aplicativoAutocracy Rising: How Venezuela Transitioned to Authoritarianism (Autocraciaestrela bet aplicativoascensão: Como a Venezuela fez a transição para o autoritarismo,estrela bet aplicativotradução livre) e co-autorestrela bet aplicativoUn dragón en el Trópico (Um dragão no Trópico), que destrincha o populismoestrela bet aplicativoChávez e analisa toda a história contemporânea da Venezuela.

A convocação das Forças Armadas para conter as manifestações nas ruas neste momento seria, portanto, uma exceção.

O cientista político aponta também para a existênciaestrela bet aplicativoum serviço robustoestrela bet aplicativovigilância dentro dos quartéis que sustenta a lealdade dos militares.

“As forças coercitivas durante todo esse tempo aderiram ao regime porque há muitas organizações e também — é importante dizer — muitas forças cubanas inseridas nelas e que descobrem qualquer problema que pode estar acontecendo lá dentro”, diz Corrales.

“Por isso, há um medo [por parte dos militares]estrela bet aplicativoque se descubram os complôs lá dentro, porque há uma inteligência interna muito grande.”

Corrales explica que Chávez e o ex-presidente cubano Fidel Castro fizeram um acordo para monitorar chavistas e não chavistas e detectar possíveis pontosestrela bet aplicativodissidência.

“A Venezuela é a nova União Soviéticaestrela bet aplicativoCuba, no sentidoestrela bet aplicativoserestrela bet aplicativoprincipal fonteestrela bet aplicativopetróleo e outros subsídios”, explica o especialista.

Esse acordoestrela bet aplicativomonitoramento é feito então,estrela bet aplicativoacordo com Corrales, para que Cuba não percaestrela bet aplicativoprincipal fonteestrela bet aplicativopetróleo.

Esse serviçoestrela bet aplicativointeligência nas Forças Armadas atua para que, ao menos aparentemente, a corporação mantenha-se fiel a Maduro. Isso porque os que não são, acabam presos.

Foi o que aconteceu no início deste ano, quando dez militares e policiais foram condenados a 30 anosestrela bet aplicativoprisão por “conspiração, terrorismo e associação para cometer um crime”, segundo informou na época a advogada do grupo, María Alejandra Poleo.

De acordo com a ONG Foro Penal, metade dos 305 presos políticos hoje no país são militares.

Há chanceestrela bet aplicativoruptura?

Devido ao crescente poder político e econômico exercido pelos militares hoje na Venezuela, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmaram ser muito difícil uma ruptura com o regimeestrela bet aplicativoMaduro.

“O único cenário possívelestrela bet aplicativoimaginar [uma ruptura] seria se tivessem milhões e milhõesestrela bet aplicativovenezuelanos mobilizados nas ruas, e os militares escolherem não confrontar esses cidadãos”, diz Stuenkel.

“Mas, ainda assim, já tivemos situações como essa no passado, e os militares ficaram do lado do regime.”

Para o analista, até mesmo as armas diplomáticas parecem ter se esgotado.

“A comunidade internacional não pode fazer mais do que já fez. A Venezuela já sofre sanções, e os Estados Unidos não querem ampliá-las, porque isso pode elevar o preço da gasolina e, logo, interferir na inflação”, explica Stuenkel.

Já Brasil e Colômbia, países que até agora eram vistos como peças importantesestrela bet aplicativoum possível xadrez conciliatório, têm pouca influênciaestrela bet aplicativofato, na avaliação do especialista.

“É bom o Brasil e a Colômbia se manifestarem [sobre o resultado da eleição], mas se você olhar para a relação comercial desses países com a Venezuela, fica evidente que eles não possuem uma influência enorme”, diz Stuenkel.

“Além disso, o Brasil não usa a ameaçaestrela bet aplicativosanções, então, na prática, as nações mais influentes hoje são os Estados Unidos, China, Rússia, Cuba e depois vem Brasil e Colômbia”, explica ele.

Além disso, a Venezuela depende pouco do Brasil, porque já que é um grande exportadorestrela bet aplicativopetróleo "que perfeitamente consegue viver sem uma relação funcional com o Brasil”.

Rafael Ioris, professorestrela bet aplicativohistória e política latino-americana na Universidadeestrela bet aplicativoDenver, nos Estados Unidos, diz que uma ruptura é improvável, porque os militares "estão encastelados no aparelho do Estado".

"Precisaria haver uma ameaça muito forte [de forças internacionais] para que rompessem”, diz Ioris.

Um cenário hipotético,estrela bet aplicativoacordo com Ioris, seria um rompimento por parte da Rússia, que tem na Venezuela aestrela bet aplicativoprincipal portaestrela bet aplicativoentrada para o armamento russo na América Latina.

Ou com a China, que comprou grande parte da dívida venezuelana, razões pelas quais ambos os países saíramestrela bet aplicativoapoio ao resultado proclamado por Maduro na terça-feira (30/7).

“Mas ainda assim, precisariaestrela bet aplicativoum grau muito altoestrela bet aplicativomobilização nas ruas, e mesmo assim não garantiria um rompimento do regime.”

Saída pela oposição

Alémestrela bet aplicativonão reconhecer o resultado, a líder da oposição, María Corina Machado, incitou os militares a apoiarem o movimentoestrela bet aplicativorechaço.

"É dever das Forças Armadas fazer respeitar a soberania popular. Isso é o que esperamos. Não vamos aceitar a chantagemestrela bet aplicativoque a defesa da verdade é a violência."

A esse caboestrela bet aplicativoguerra político soma-se o ingrediente popular das manifestações nas ruas.

Venezuelanos contrários ao regimeestrela bet aplicativoMaduro que seguem vivendo no país — quase 8 milhões já foram embora — protestamestrela bet aplicativodiferentes pontos do país.

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, afirmou que ao menos 749 pessoas já haviam sido presas.

Pelo menos 12 pessoas morreram nas manifestações, segundo um comunicado conjuntoestrela bet aplicativoorganizaçõesestrela bet aplicativodireitos humanos.

Segundo o general López, um sargento morreu e dezenasestrela bet aplicativomilitares estão feridos.

Em um contra-ataque, Maduro convocou seus apoiadores a irem ao Palácio Miraflores, manifestarem-se a seu favor.

E, contrariando a expectativaestrela bet aplicativoMaría Corina, anunciou o uso das forças armadas eestrela bet aplicativopoliciais para conter a oposição nas ruas, escalando, ainda mais, a tensão, o que levou Edmundo González a pedir que os militares não reprimam o "povo".

"Senhores das forças armadas: não há razão alguma para reprimir o povoestrela bet aplicativoVenezuela, não há razão alguma para tanta perseguição", disse ele dianteestrela bet aplicativoapoiadoresestrela bet aplicativoCaracas na terça-feira.

Rafael Villa afirma que um caminho mais viável seria a oposição tentar dialogar com as Forças Armadas.

“Um processoestrela bet aplicativotransição política na Venezuela hoje tem que levarestrela bet aplicativoconta os militares, e a oposição tem feito issoestrela bet aplicativomaneira muito errônea, chamando para respeitar os resultados, por exemplo”, afirma.

Ele menciona a cenaestrela bet aplicativoque María Corina Machado tentou cumprimentar militares ao chegarestrela bet aplicativoseu localestrela bet aplicativovotação no domingo (28/7) e foi ignorada.

“Isso é muito simbólico e mostra a grande desconfiança que os militares ainda têm pela oposição”, afirma Villa.

“E, claro, reflete também os temoresestrela bet aplicativoperder os privilégios que eles têm”.

Corrales também ressalta que há militares muito leais a Maduro e que desprezam a oposição.

“Mas isso é típico, ainda mais na Venezuela, onde houve uma ideologização e a corrupção dos militares”, diz Corrales.

O apoio ao regime, no entanto, não é monolítico. “Desde 2002, a cúpula militar tem sofrido um processoestrela bet aplicativoexpurgo constante onde só sobrevivem aqueles que são capazesestrela bet aplicativomanter-se fiéis ao regime”, afirma Villa.