O que está por trás da aliança entre China e Rússia :wizard poker

A BBC News Brasil conversou com especialistaswizard pokerpolítica chinesa e russawizard pokerdiferentes partes do globo e que veem o momento atual sob perspectivas distintas para identificar quais são os interesses e visõeswizard pokercomum que aproximam Moscou e Pequim.

Interesses econômicos ewizard pokersegurança

Segundo analistas, acimawizard pokertudo essa é uma parceria pragmática, que busca o benefício mútuo.

Após a invasão à Ucrânia, Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e outras nações aliadas impuseram sanções restritas à Rússia - proibindo as importaçõeswizard pokerpetróleo e as exportaçõeswizard pokerprodutoswizard pokeralta tecnologia.

Com isso, o comércio desses países com os russos caiu exponencialmente ao longowizard poker2022 e a China se solidificou como o parceiro comercial mais importante da Rússia.

O comércio bilateral entre os dois parceiros atingiu um nível recordewizard poker2022, chegando a 190 bilhõeswizard pokerdólares. Ou seja, um aumentowizard poker30%wizard pokerrelação ao ano anterior.

Além disso, quase metadewizard pokertodas as receitas anuais do governo russo vem do petróleo e gás, e as vendas para os países da União Europeia despencaram com as sanções.

Mas uma parte significativa desse déficit foi compensada com o aumento das vendas para a Ásia - e para a China.

A Rússia exportou duas vezes mais gáswizard pokercozinha e 50% a maiswizard pokergás natural para a Chinawizard poker2022 do que no ano anterior. Há ainda projetoswizard pokerlongo prazo para expandir os laços e construir um novo gasoduto para ligar os dois territórios.

Para além da economia, também há cooperaçãowizard pokertermoswizard pokersegurança, segundo analistas.

A China não só compartilha uma fronteirawizard pokermaiswizard poker4 mil quilômetros com a Rússia, como também faz divisa com outras ex-repúblicas soviéticas sob a influênciawizard pokerMoscou, como o Cazaquistão, o Quirguistão e o Tajiquistão. E estrategicamente, Pequim não quer instabilidadewizard pokersuas fronteiras.

Mas a grande questão neste momentowizard pokerrelação ao conflito na Ucrânia é se a China, o quarto maior exportadorwizard pokerarmas do mundo, vai enviar ajuda bélica para a Rússia.

Até agora, o governo chinês não forneceu equipamentos letais à Rússia, mas os Estados Unidos acreditam que essa é uma possibilidade no futuro.

Siemon Wezeman, do Instituto Internacionalwizard pokerEstocolmo para Estudos da Paz, disse à BBC que a China está fabricando material bélico cada vez mais sofisticado, como por exemplo drones, que podem interessar à Rússia. Porém até o momento não há provaswizard pokerenviowizard pokerarmas.

Visãowizard pokermundo e oposição ao Ocidente

Mas a ligação não para por aí. Segundo os especialistas consultados pela reportagem, uma posição similar sobre o Ocidente e o futuro da ordem mundial, alémwizard pokervisõeswizard pokermundo semelhantes, também unem as duas potências.

Para eles, existe uma vaga similaridade nos valores enaltecidos por ambos os governos e -wizard pokerparte - pelas sociedades.

O pesquisador e professor da American University, Joseph Torigian, estuda a trajetória política desses dois países e as estratégiaswizard pokerseus governos. Segundo ele, vigorawizard pokerambos "uma forma diferentewizard pokerolhar para o mundo, que coloca mais ênfase no poder do Estado ewizard pokervalores sociais conservadores".

Ambos os governos também possuem tendências autocráticas,wizard pokeroposição ao modelowizard pokerdemocracia ocidental, diz Torigian.

Mas esses valores ou ideologias têm origens distintas nos dois países e são difundidos e aplicadoswizard pokerformas ewizard pokerintensidades diferentes. No passado, inclusive, China e União Soviética tiveram conflitoswizard pokerrelação aos seus modeloswizard pokercomunismo.

O professor e pesquisador chinês Yingjie Guo, da Universidadewizard pokerSidney, explica que o governo chinês afirma se guiar pelas ideologias do comunismo e marxismo, mas que na prática o desenvolvimento econômico muitas vezes é colocadowizard pokerprimeiro lugar.

"O Partido Comunista estabelece como objetivo o comunismo e continua a dizer que é guiado pelo marxismo (...). No entanto, não tem pressawizard pokeravançar para o comunismo ou mesmo para estágios mais avançados do socialismo. Pelo contrário, o socialismo chinês voltou a um estágio inicial,wizard pokerque as relaçõeswizard pokerprodução não socialistas, incluindo a propriedade privada, são permitidas."

Além disso, segundo o cientista político e historiador Rana Mitter, da Universidadewizard pokerOxford, o pensamento político chinês atual também tem muitas influências do Confucionismo, uma doutrina que vem sendo retomada por Xi Jinping.

"Essa filosofia tradicional chinesa traz elementos a respeito da hierarquia e do relacionamento entre as pessoas e países", explica.

Já no caso da Rússia, apesar do passado soviético comunista, as influências ideológicas atuais são totalmente diferentes, alémwizard pokermais dispersas e difíceiswizard pokerserem identificadas.

"A filosofia do governo Putin atualmente está diretamente ligada ao nacionalismo, mas mais ainda ao imperialismo e a um sentimentowizard pokersuperioridade (combinado com um sentimentowizard pokerressentimento) da nação russa. (...) É basicamente um conjunto completowizard pokerideologias clássicas da extrema direita", definiu o pesquisador e jornalista russo Andrei Kolesnikov, membro do think tank Carnegie Endowment for International Peace.

Pesquisador e professor da Universidade Federal do Sul, na Rússia, Victor Apryshchenko afirma ainda que esse discurso nacionalista está presente não só nas declaraçõeswizard pokeroficiais do governo, mas também nas escolas, na produção cultural controlada pelo Estado e nas redes sociais.

"Creio que a principal explicação para esse renascimento do nacionalismo atualmente é o trauma que a Rússia e a população russa enfrentaram após o colapso da União Soviética. Me parece que desde 1991 há um esforço interno e externo para tentar retomar a posição anterior", diz.

Mas o ponto que une os dois países é justamente como os seus valores se contrapõem aos ditos ocidentais,wizard pokerespecial quando se trata da defesa da democracia como o melhor modelowizard pokergoverno e da definiçãowizard pokerdireitos humanos e outros conceitos.

"A oposição ao modelo ocidental certamente ajuda a unir os dois países", afirma Andrew Mertha, diretor do programawizard pokerestudos sobre a China da Universidade Johns Hopkins, nos EUA.

Segundo analistas, Rússia e China não estão necessariamente tentando impor seu modowizard pokerver a realidade ao resto do mundo, como fizeram durante a Guerra Fria, mas temem justamente o que acreditam ser uma tentativa do Ocidentewizard pokerfazer isso com seus próprios valores.

Segundo Vicente Ferraro Jr, cientista político e pesquisador do Laboratóriowizard pokerEstudos da Ásia da Universidadewizard pokerSão Paulo (USP), esse é um dos principais componentes políticos da relação hoje.

"Ambos contestamwizard pokerparte o liberalismo político e acusam o Ocidentewizard pokertentar 'exportar' seus modelos políticos,wizard pokermaneira inapropriada, a outras sociedades e contextos culturais. O liberalismo político e, indiretamente, a democracia representativa são apresentados por ambas não como valores universais, mas como construções do Ocidente instrumentalizadas para fins geopolíticos", diz.

Existem, por exemplo, vozes que defendem a ideiawizard pokerque os conceitoswizard pokerdemocracia e direitos propostos pelos Estados Unidos e pela Europa na verdade são apenas uma formawizard pokermanipular os demais paíseswizard pokerfavorwizard pokerseus interesses.

Em outras palavras, Moscou e Pequim compartilham da ideiawizard pokerque a ordem internacional liderada pelo Ocidente e por suas regras é uma ameaça tanto para a China quanto para a Rússia.

Segundo os especialistas, isso fica claro tanto nos discursoswizard pokerque Putin acusa a Otanwizard pokerexpandir seus interesses além do seu próprio território, quanto quando Xi Jinping critica a busca dos Estados Unidos por aliados na região da Ásia-Pacífico.

"Trata-sewizard pokeruma aliança contra um adversário comum, baseada principalmente na ideiawizard pokerque os Estados Unidos estão usando seu poder militar livremente e amplamentewizard pokertodo o mundo e que isso não pode continuar", definiu o russo Mikhail Alexseev, professor da Universidade Estadualwizard pokerSan Diego.

Para ele, sem essa percepção comum sobre o Ocidente, a estrutura da parceria entre Rússia e China pode desabar.

Uma parceria 'sem limites'?

Mas há quem questione se essa aliança é,wizard pokerfato, ilimitada, como os dois governos definiramwizard pokerum comunicado conjunto emitido pouco antes da invasão da Ucrânia.

As diferenças ideológicas, que existem apesar das visõeswizard pokermundo semelhantes, podem se tornar um problemawizard pokeralgum momento, segundo especialistas consultados pela BBC Brasil.

Os precedentes estabelecidos no passado também não são dos melhores. Em marçowizard poker1969, as tropas da China e da antiga União Soviética (URSS) se enfrentaram numa batalha que durou meses e marcou por maiswizard pokerduas décadas as relações entre os dois países.

Os analistas afirmam ainda que a China pode abandonar a parceria caso a Rússia vá longe demais emwizard pokerempreitada na Ucrânia, por exemplo utilizando armas nucleares. Ou então caso uma cooperação mais vantajosa economicamente se apresente no futuro.

A professora Alexandra Vacroux, da Universidadewizard pokerHarvard, definiu da seguinte maneira: "É uma espéciewizard pokercasamento por conveniência, mas não existe amorwizard pokerverdade".

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