Qual seria o papel do Brasilestrela bet casa de apostasuma eventual invasão da Guiana pela Venezuela?:estrela bet casa de apostas

Essequibo — também conhecido como Guiana Essequiba — é um território a oeste do rio Essequibo, no norte da América do Sul, que compreende 159 mil quilômetros quadrados.

A área, que faz fronteira com o Estado brasileiroestrela bet casa de apostasRoraima, é ricaestrela bet casa de apostasrecursos naturais e florestais.

A BBC News Brasil consultou especialistas da área militar para entender qual seria o papel do Brasilestrela bet casa de apostasum eventual conflito pela disputa do Essequibo.

Segundo os analistas, uma incursãoestrela bet casa de apostasqualquer tipo não parece provável no contexto atual.

Vias terrestres

A fronteira entre Venezuela e a regiãoestrela bet casa de apostasEssequibo é predominantemente formada por floresta densa, o que dificulta o deslocamentoestrela bet casa de apostastropas e viaturas blindadas.

"A fronteira entre a Venezuela e a Guiana é muito grande, mas uma parte substantiva dela consisteestrela bet casa de apostasfloresta, com poucas regiõesestrela bet casa de apostasacesso com característicaestrela bet casa de apostascerrado", diz Augusto Teixeira, professor visitante do Departamentoestrela bet casa de apostasEstudos da Guerra da King's College London.

Segundo o especialista, as poucas áreas que estariam disponíveis na divisa para uma incursão venezuelana permitem apenas o usoestrela bet casa de apostaspoucas forçasestrela bet casa de apostasinfantaria a pé.

Por isso, uma ação mais ampla teria que passar pelo território brasileiro, onde há rodovias que permitiriam a locomoção.

"Por terra, a opção da Venezuela seria se deslocar pela Ruta 10 e ingressar no Brasil, descendo até a BR-174", diz Ronaldo Carmona, professorestrela bet casa de apostasgeopolítica da Escola Superiorestrela bet casa de apostasGuerra (ESG).

Seguindo o caminho descrito pelos analistas, na fronteira entre Roraima e Essequibo os municípios mais sensíveis são Bonfim e Normandia, essa última na região da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

Já na divisa entre Venezuela e Brasil, Pacaraima, no norteestrela bet casa de apostasRoraima, é a cidade usada para tráfego.

Mas segundo os analistas consultados pela BBC News Brasil, uma incursão é pouco plausível atualmente.

"O Brasilestrela bet casa de apostashipótese alguma vai permitir o uso militar do seu território", diz Carmona. "O outro meio para uma incursão venezuelana seria aeronaval, mas isso seria muito mais custoso."

"A Venezuela entende que usar nosso território seria trazer o Brasilestrela bet casa de apostasforma ativa para a disputa e escalar mais o conflito", complementa Augusto Teixeira.

O próprio ministro da Defesa, José Múcio, afirmouestrela bet casa de apostasentrevista ao G1 que a região da tríplice fronteira entre Brasil, Guiana e Venezuela está "garantida" pelas Forças Armadas.

"O Brasil tem que garantir as suas fronteiras, e nossas fronteiras estão garantidíssimas. Não vamos permitir [tropas da Venezuela passando pelo Brasil]. Isso eu asseguro", disse.

Augusto Teixeira afirmou ainda à BBC que há outras questões logísticas que podem dificultar esse processo.

"Grande parte do quantitativo militar da Venezuela está na região próxima a Caracas e à costa. Não é tão fácil movimentar essas tropas até a fronteira com a Guiana", afirma.

Diplomacia e dissuasão

O Brasil também já vem despenhando um papel diplomático importante diante das ameaças da Venezuela.

Fontes ouvidas pela BBC News Brasil contam que a preocupação do governoestrela bet casa de apostasLuiz Inácio Lula da Silva (PT) com o assunto tem alguns meses.

No dia 9estrela bet casa de apostasnovembro, o presidente brasileiro e da Guiana conversaram por videoconferência e, segundo um diplomata brasileiro, o presidente guianense expressou suas preocupações sobre o referendo a Lula.

Duas semanas depois, no dia 22estrela bet casa de apostasnovembro, Lula enviou o assessor-especial para assuntos internacionais, o embaixador Celso Amorim, a Caracas.

Ele se reuniu com Nicolás Maduro na capital venezuelana e ambos teriam, segundo as duas fontes, conversado longamente sobre o assunto.

Uma das fontes ouvidas pela BBC News Brasil disse que, ao longo da conversa, Maduro teria tentado tranquilizar Amorim sobre as reais intenções do seu governoestrela bet casa de apostasrelação à região.

O brasileiro, porestrela bet casa de apostasvez, teria expressadoestrela bet casa de apostaspreocupação com o tema e reforçado a posiçãoestrela bet casa de apostasque a disputa seja resolvidaestrela bet casa de apostasforma pacífica.

Dias depois, integrantes dos Ministérios das Relações Exteriores e da Defesa passaram a analisar, conjuntamente, a crise na região.

Foi a partir dessa análise que, na quarta-feira, o Ministério da Defesa divulgou a notaestrela bet casa de apostasque anuncia a intensificação das açõesestrela bet casa de apostasdefesa na fronteira.

De acordo com o jornal Folhaestrela bet casa de apostasS. Paulo, houve o deslocamentoestrela bet casa de apostas200 militares para um pelotãoestrela bet casa de apostasfronteira localizado na cidadeestrela bet casa de apostasPacaraima,estrela bet casa de apostasRoraima, no extremo norte do país.

Em nota, o Exército falou aindaestrela bet casa de apostas"meiosestrela bet casa de apostasemprego militar nas cidadesestrela bet casa de apostasPacaraima e Boa Vista", entre os quais 16 viaturas blindadas que serão deslocadas ao longo do mêsestrela bet casa de apostasdezembro.

Um dos diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil avalia que a crise preocupa o Itamaraty porque um conflito entre os dois países romperia com a tradição recenteestrela bet casa de apostassolução pacíficaestrela bet casa de apostasdisputas territoriais na região e porque aconteceriaestrela bet casa de apostasuma área extremamente próxima ao Brasil.

"O Brasil é um tradicional mediador dos conflitos da América do Sul e, nesse caso, o governo atual é amigo tanto da Venezuela quanto da Guiana", diz Carmona.

Mas segundo o especialista, o papel brasileiro vai além da negociação e alcança o patamarestrela bet casa de apostasdissuasão por meio da força militar.

"Sobretudo pela negação do uso do nosso território e pelos efeitos que uma aventura militar venezuelana pode ter para o ambienteestrela bet casa de apostassegurança da América do Sul e,estrela bet casa de apostasespecial, da Amazônia."

Mas, para o professor da King's College, a resposta brasileira poderia ser ainda mais contundente diante dos últimos acontecimentos.

"A dissuasão tem que ocorrer por meioestrela bet casa de apostascanais políticos e diplomáticos, mas também por meio da sinalizaçãoestrela bet casa de apostasforça. Ou seja, o Brasil tem que colocar ameaças críveis", diz Teixeira, que avalia que o deslocamentoestrela bet casa de apostasmilitares e veículos blindados feito até agora não é significativo o suficiente como advertência.

'Imprudente e aventureiro'

No referendo realizado no domingo (3/12), cinco perguntas foram feitas aos venezuelanos para saber se eles apoiariam a reivindicaçãoestrela bet casa de apostasum vasto territórioestrela bet casa de apostasdisputa com o país vizinho.

A consulta pública aprovou as propostas do governo, que incluem a criação do Estadoestrela bet casa de apostasGuiana Essequiba como parte do território da Venezuela, alémestrela bet casa de apostasum plano para conceder cidadania venezuelana aos seus habitantes.

Segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), maisestrela bet casa de apostas10,4 milhões dos 20,7 milhõesestrela bet casa de apostaseleitores elegíveis votaram na consulta popular.

A contagem inicial dos resultados foi questionada por políticos e analistas da oposição, que alertaram para a possibilidadeestrela bet casa de apostasas respostas dos eleitores a cada uma das cinco questões do referendo serem contadas como votos expressos separadamente.

A baixa participação dos eleitores nas assembleiasestrela bet casa de apostasvotoestrela bet casa de apostasCaracas e outras cidades gerou dúvidas.

A cifraestrela bet casa de apostas10,5 milhões anunciada pelo CNE é a maior participação já registadaestrela bet casa de apostasuma eleição venezuelana.

Maduro, porém, classificou o feito como uma "vitória esmagadora".

"Demos os primeiros passosestrela bet casa de apostasuma nova etapa histórica na luta pelo que nos pertence, para recuperar o que os libertadores nos deixaram", afirmou.

Já o governo da Guiana disse que permanecerá "atento" depois da divulgação dos resultados do referendo.

"Devemos permanecer sempre atentos", disse o ministro das Relações Exteriores da Guiana, Hugh Todd, à agênciaestrela bet casa de apostasnotícias AFP após o referendo.

"É claro que nosso monitoramento deve ser sempreestrela bet casa de apostasalto nível. Embora não acreditemos que o presidente (Nicolás) Maduro ordene uma invasão, ele pode fazer algo que é imprevisível", acrescentou.

Anteriormente, no dia da votação, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, explicouestrela bet casa de apostasentrevista ao programa Newshour da BBC que leva a sério a retórica e a atitude das autoridades venezuelanas sobre o assunto - que, segundo ele, não tem sido positiva.

"A segunda questão tem a ver com comportamento imprudente e aventureiro. Este tipoestrela bet casa de apostasretórica e o referendo podem levar a muitas circunstâncias, pessoas agindo por conta própria, alimentando sentimentos públicos sobre uma questãoestrela bet casa de apostastorno da qual se está tentando criar um conflito", disse.

Em nota enviada à BBC News Brasil, o Exército afirmou que vem mantendo constante monitoramento e prontidãoestrela bet casa de apostasseus efetivos para garantir a inviolabilidade das fronteiras.

"Atualmente, no lado brasileiro, o movimento na fronteira tem sido normal", diz o centroestrela bet casa de apostascomunicação social das forças.

Ainda segundo o comunicado, o reforçoestrela bet casa de apostastropas e a intensificação da presença da 1ª Brigadaestrela bet casa de apostasInfantariaestrela bet casa de apostasSelva na faixaestrela bet casa de apostasfronteira fazem parteestrela bet casa de apostas"uma ação estratégica pré-planejada" que foi adiantada.

Além da retórica?

Estima-se que 300 mil pessoas vivamestrela bet casa de apostasEssequibo e um conflito poderia ter impactos econômicos e sociais nas áreas brasileiras próximas.

O professor Augusto Teixeira explica que, além das perturbações mais imediatasestrela bet casa de apostasum conflito na região, uma invasão da Venezuela poderia provocar consequências indiretas para o Brasil.

"O Brasil já sofre com os custos para acolher e interiorizar os refugiados gerados pela crise interna na Venezuela. Se tiver uma guerra, esse fluxo pode aumentar muito", diz.

Além disso, o Estadoestrela bet casa de apostasRoraima pode voltar a depender da Venezuela para fornecimentoestrela bet casa de apostasenergia.

Segundo o ministroestrela bet casa de apostasMinas e Energia, Alexandre Silveira, negociações estavamestrela bet casa de apostascurso para acelerar o processoestrela bet casa de apostasimportação da energia do Linhãoestrela bet casa de apostasGuri , que liga o complexo hidrelétricoestrela bet casa de apostasGuri-Macágua, na Venezuela, com a cidadeestrela bet casa de apostasBoa Vista.

Roraima é o único Estado que não está conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e, até 2019, recebia energia elétrica por meio do Linhãoestrela bet casa de apostasGuri, mas o fornecimento foi interrompido após apagões no país vizinho.

Um elemento que também causa preocupação junto ao governo brasileiro é a incerteza sobre o processo decisório dentro do governo Maduro.

Em novembro, segundo o jornal Folhaestrela bet casa de apostasS.Paulo, emissários do governo venezuelano disseram que, a depender do resultado do referendo, o governoestrela bet casa de apostasCaracas poderia "ser forçado pelo povo" a agir.

As declarações teriam sido dadas durante um encontroestrela bet casa de apostasministros da Defesa eestrela bet casa de apostasRelações Exteriores da América do Sul,estrela bet casa de apostasBrasília.

Mas os especialistas consultados pela BBC News Brasil afirmam que qualquer incursão ainda parece pouco provável no momento.

"É pouco provável que a Venezuela vá além da retórica nesse momento", diz Ronaldo Carmona.

"Do pontoestrela bet casa de apostasvista militar, qualquer ação venezuelana na Guiana representa um riscoestrela bet casa de apostasenvolvimentoestrela bet casa de apostasatores extrarregionais,estrela bet casa de apostasespecial dos Estados Unidos. E isso não interessa a ninguém."

Segundo o professor da Escola Superiorestrela bet casa de apostasGuerra , as próprias circunstâncias internas venezuelanas podem dissuadir o governoestrela bet casa de apostasMaduroestrela bet casa de apostasmaiores ações,estrela bet casa de apostasespecial a proximidade das eleições marcadas para 2024.

"Uma aventura militar pode ser muito custosa, especialmenteestrela bet casa de apostasum momentoestrela bet casa de apostasque a Venezuela passa por uma recuperação econômica após o levantamento das sanções americanas", diz.

Augusto Teixeira, porém, acredita que as últimas ações do regime Maduro, com a criaçãoestrela bet casa de apostasum "Estadoestrela bet casa de apostasDefesa" no território disputado e a nomeaçãoestrela bet casa de apostasum general para comandá-lo, são um claro sinalestrela bet casa de apostasescalada.

Segundo o especialista, a disputa por Essequibo é um tema que mobiliza diversos setores da sociedade venezuelana e pode ser explorado pelo atual presidente para garantir votos nas eleições no próximo ano - e não prejudicá-lo.

"Ao invadir Essequibo, a Venezuela pode tentar forçar a barra para uma negociação que seja favorável ao seu reconhecimento como ator tradicional da política sul-americana", afirma.

"Uma incursão ainda é mais improvável, mas não creio que seja totalmente impossível."